HOMEOPATIA, NEM FÉ NEM PARTIDO: CIÊNCIA
Quem já não ouviu alguém dizer que gosta e está do lado da Homeopatia?
Ou que usa a Homeopatia porque acredita nela (chegam a usar expressões
"fé", "é preciso ter fé")?
Ela não é partido político ou coisa do gênero para se estar do lado
dela, apoiá-la, se expressar a favor dela... Nem tampouco religião para se ter
fé ou acreditar.
Ninguém precisa tomar a medicação com “fé”, muito menos ter pensamento
positivo de que vá funcionar para ela ser eficaz. Isso é ridículo e, a partir
deste ponto, já não falamos mais como médicos.
Para deixar clara a nossa linha de raciocínio, vamos lembrar um pouco
como se desenvolveu o método de estudo científico, baseado em experimentações.
Tudo o que conhecemos e usamos em
Medicina vem de estudos realizados por diversos homens voltados a desvendar,
resolver problemas e enigmas, criar um corpo de conhecimento que possibilite
existir a Medicina.
O método de Estudo Cientifico que usamos hoje foi fruto do
desenvolvimento da razão humana, e ela vem mudando no tempo, gradativamente, em
busca de exatidão na construção do conhecimento humano.
Hahnemann era um médico doutorado e produzia trabalhos que eram
apresentados na academia de medicina do seu tempo, em seu país (Alemanha).
Dentre os trabalhos, um deles é o tratado sobre a sarna, que é válido até hoje,
com a indicação do Benzoato de Benzila para curá-la.
A ciência de antes de Hahnemann era feita por teoremas vindos do nada,
ou observados na natureza e explorados como conhecimento humano.
Francis Bacon desenvolveu o Método Empírico de Estudo que revolucionou
no seu tempo e cobrou do estudioso atenção e observação para descrever os
fenômenos encontrados no nosso meio. Não havia nenhuma tentativa de interpretar
o fato, apenas o observava, experimentava e anotava tudo.
Deste ponto, não demorou muito para que começassem a anotar,
experimentar e formular uma teoria sobre o assunto em estudo.
Na medicina, essas experimentações vieram com Claude Bernard em 1865,
quando publicou seu trabalho "Introdução ao estudo da Medicina
Experimental". Essa obra é apontada na literatura como a primeira
experimentação em medicina, embora Samuel Hahnemann já tivesse divulgado suas
experimentações em 1796, "Ensaio sobre um novo princípio para descobrir
as virtudes curativas das substâncias medicinais", aconselhando a
fazer experimentações no homem sadio. Isso 69 anos antes de Claude Bernard. Em
1810, ele publicou "Organon da Medicina Racional", eixo da
Homeopatia, trabalho todo baseado em experimentações e rigorosa observação.
A Homeopatia nasceu na medicina experimental de Hahnemann. Foi o
resultado de um trabalho de uma vida toda, desenvolvido por um doutor da
academia de ciências médicas, através do método de estudo de seu tempo, e não
do imaginário dele ou de qualquer outro.
Está, portanto, longe de crenças, misticismo, filosofias e religiões. É
um ramo da ciência médica, resultado de um trabalho racional acadêmico do
século XVIII.
É um campo terapêutico ainda muito atual que nos aponta para uma área
de estudo ainda virgem na ciência atual.
Sei, sim, que existem médicos que falam de forças astrais, psíquicas,
forças neuróticas e recorrem a muitas explicações que se amoldam à imaginação
de cada um.
Mas a Homeopatia é um campo de estudo a ser considerado, não por ser o
mais certo, mas por ser um material
desenvolvido por um médico através da observação, síntese e experimentação, que
compunham o Método de Estudo Empírico-Científico de sua época.
Se a quisermos conhecer a Homeopatia dentro do método de estudo atual, Método
Cientifico de Estudo, é só se adequar a ele através de trabalhos sérios.
Há os que dizem: ou temos Alopatia ou temos Homeopatia, situadas como
frentes opostas em conflito.
Não sei como isso pode ser dito sem má fé ou ignorância.
Pode-se dizer que são coisas diferentes, mas não antagônicas, e não
estão em conflito, porque cada terapêutica tem suas características e formas de
atuar plenamente estudadas, distintamente e independentemente uma da outra.
Vale repetir: são especialidades individuais da cadeira de Terapêutica,
e não representam duas vertentes opostas que se digladiam para ter supremacia
na forma de tratar os pacientes.
Certa vez, encontrei um colega que, assim que me viu, começou a falar
baboseiras para justificar que Homeopatia “não presta”, e que a Alopatia era o
oposto salvador. E passou a dizer:
- Se chegar um acidentado sem sangue nas veias o que você faz?
Pensei comigo: chamo um padre porque está morto. Mas não falei para não
torná-lo tão eloquentemente insano.
- Na verdade, eu daria expansor de plasma, ou sangue, se eu o tiver em
mãos. E isso é Isopatia e não Alopatia – respondi.
Olhou-me e ficou quieto. Depois continuou:
- Vocês dizem que curam tudo, quero ver se você pegar aqueles
desidratados na pediatria. Quero ver o que você faz! – e balançava a cabeça
como Mussolini nos seus discursos.
Perguntei a ele:
- E o que você faz?
Respondeu-me orgulhosamente e prontamente:
- Não sou pediatra, mas como alopata daria água, eletrólitos e glicose
(esse é o tratamento básico de um desidratado).
Emendei:
- Eu como homeopata faria o mesmo!
- Mas como? Por que não usa a Homeopatiazinha? – falou de uma forma
como se quisesse brigar mesmo comigo.
- Porque, como médico que sou, escolheria a proposta da Isopatia, que é
a postura mais adequada a meu ver.
- O que é isso, Iso... agora nada é alopatia? – contestou, mas já incertamente.
- A Alopatia poderia no máximo indicar um antimicrobiano, se fosse essa
a etiologia do quadro, um antiemético que não a atropina porque senão seria a
enantiopatia, mas não poderia fazer mais nada, além disso, para desidratação...
Comecei a falar pausadamente para me fazer entender .
- De onde tirou isso – quase urrou
- Da Medicina, ué! – respondi
- Eu estudei lá na faculdade “tal” e não vi nada disso – falou, se
gabando da faculdade que tem renome nacional.
- Dá para ver – respondi.
Esse encontro tão desagradável, em que o interesse médico real ficou de
lado, a favor de uma ação violenta, mostrando uma polarização absurda que não
provém da Medicina e de seu conhecimento, mostra-nos a raiz do problema: o
desconhecimento.
Mostra-nos, infelizmente, a posição atual de um número de médicos, não
de todos, graças a Deus, refletindo uma atitude tão contemporânea.
Essa postura é comum na política, religião, na definição de grupos
vários, no futebol. Está na maneira de agir das pessoas hoje, e muitas vezes serve
para movimentar massas populacionais.