quinta-feira, 26 de novembro de 2015


FITOTERAPIA  

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Por ser Homeopata, muitos me perguntam se certos fitoterápicos são realmente bons para curar algumas situações mórbidas, ou mesmo até sintomas, e para tratar certas enfermidades.

Na verdade, a Homeopatia e a Fitoterapia são terapêuticas distintas. 

Por desconhecimento, pessoas confundem as terapias, tendo em mente serem “naturais”.

Até há pouco tempo achava-se que Homeopatia era o tratamento com vegetais, chá, unguentos, etc.

A fitoterapia, na verdade, é um tratamento com plantas, partes delas ou substâncias extraídas delas, a planta inteira, mas é uma Alopatia.

Na alopatia você pode usar qualquer tipo de medicamento seja natural, semi sintético ou sintético, cujo uso não corresponde ao mecanismo orgânico de enfermar.

UM COSTUME COMUM


É do brasileiro, porque são as pessoas a quem trato normalmente, procurar porquês na medicina, procurar medicamentos para fins diversos, e sempre pedem para um médico na rua, na festa, no ônibus, em fim, em qualquer lugar, um remedinho bom para isto ou aquilo.

Este costume faz com que eles estejam muito vulneráveis a ação da mídia, quando ela faz “marketing” de assuntos médicos.

Normalmente são assuntos escritos ou apresentados de forma que a pessoa que assiste conclua uma inverdade embora eles apenas afirmem um princípio, enquanto o espectador conclui algo diferente, e é o que o remete ao consumo.

Para mim isto deveria ser proibido, e informações médicas num geral deveriam ser rigorosamente restringidas à educação médica e não a informações levianas e, as vezes, distorcidas de uma realidade baseada num fato médico-científico que lhe camufla uma intenção “marqueteira”.

Vou pegar um exemplo simples, uma informação que roda entre as pessoas:
  - Vitamina A faz bem para os olhos.
  - A verdade seria que numa carência de vitamina A aparecerá, como um dos sintomas da Avitaminose A, a cegueira noturna (Xeroftalmia). 



Nesses casos o tratamento é a reposição da vitamina A (Isopatia) para resolver o quadro sintomático carencial.

Então, a cegueira noturna desaparece junto a tantos outros sintomas da carência de vitamina A.

Daí  a afirmação de que a vitamina A faz bem para os olhos.

Da mesma forma há afirmações tantas na mídia que, dependendo da maneira de escrever, faz o indivíduo concluir uma série de inverdades, e não que tenham mentido ou mostrem ter inculcado algo não verdadeiro.

A culpa toda é de quem leu, simplesmente assim.

Somos um povo e devemos nos repeitar como membros dele, da mesma forma que devemos nos respeitar como uma individualidade.

ESTUDO SÉRIO


Desde há muito tentamos desenvolver um método de estudo que possa nos trazer conhecimento para desenvolver tecnologia, dominar algo ou resolver problemas.

Foi-se desenvolvendo técnicas de estudos, agregando resultados até chegarmos ao Método de Estudo Científico que usamos para trazermos informações seguras na atualidade.

Mas ainda “brotam” conhecimentos sem o lastro deste estudo, que hoje é o mais seguro para estudar qualquer fato observável.

É desse “brotar” que muitas vezes colhemos males graves, fruto da ignorância. 

Uma senhora portadora de Osteoartrite, a conhecida artrose, que tinha dores crônicas recebeu a informação de que a semente de Sucupira, uma árvore muito bonita por sinal, era ótimo para o reumatismo e tirava as dores com as mãos, e não fazia mal por ser natural.

A semente de Sucupira é um anti-inflamatório natural muito bom , porém a dose tóxica esta muito perto da dose terapêutica o que impõe muito cuidado no uso de tal medicamento.

Como o medicamento não fez o efeito desejado foi-lhe sugerido para que dobrasse a dose, e ela consentiu porque acreditou que por ser natural  não faria mal nenhum.

É lamentável ver um mal maior aparecer em um indivíduo que poderia ter confiado em informações seguras geradas por estudos sérios e poupar assim de sofrimentos evitáveis.

O médico é o profissional que deve usar essas informações adquiridas pelo Método de 
Estudo Científico, cuja ação foi confirmado e prevista através de ensaios farmacológicos, e para as patologias foi formulado uma proposta terapêutica eficaz.

O FITOTERÁTICO

Fitoterapia é uma parte da terapêutica que usa plantas e sementes in natura para tratar as pessoas, e tem seu valor na terapêutica.

Muitos vegetais serviram de base para desenvolver medicamentos maravilhosos como a Digitalis purpurea que possibilitou a existência de cardio tônicos (remédios que aumentam a força do coração), que já salvou e prolongou a vida em condições melhores de pacientes com Insuficiência Cardíaca (coração fraco).

Foram necessários muitos estudos, ensaios e pesquisas até chegarmos aos cardiotônicos, que usamos com segurança hoje, e que são conhecidos como Digitálicos. 

Assim também o foi com a Strycnos nux vomica, que originou os antiespasmódicos; o Pavot soporífero, o Opium, de onde saíram grandes analgésicos, a Artropa belladona de onde saíram medicamentos valiosos,  sendo o mais comum a Atropina, e muitos outros tantos.

Mas, tudo depende de um estudo sério para que eles possam ser usados como medicamentos, uma vez que, em sua grande maioria, são venenos para o organismo.

Conhecendo-se bem uma planta pode-se fazer uso de suas propriedades medicinais com segurança, dependendo para isso de um conhecimento científico e sério.

Na Alemanha são consumidas anualmente 500 toneladas da Matricaria recutita (Camomila), que cresce espontaneamente em toda a Alemanha como erva daninha.

CONCLUSÃO


Dentro da alopatia a Fitoterapia tem seu valor indiscutível, embora ainda seja objeto de estudo e confirmações.

Porém se um mal crônico lhe aflige não se limite a apenas tratar seus sintomas, a palia-lo, procure um profissional que o estude e lhe de uma proposta terapêutica eficaz para cura-la, limitar o mal ou aliviar seus sintomas na medida do possível.

Tome cuidado para não cair no consumo médico, hábito lamentável que custa muito a milhares hoje em dia.



quinta-feira, 19 de novembro de 2015

       MIASMAS



   Em Homeopatia se fala com frequência na expressão MIASMA, crônico e agudo.

   
  Essa expressão é de fundamental importância para o tratamento do homem como um todo, no objetivo de acabar de vez com a patologia, tratando a doença crônica dinâmica.

    Quando adoecemos o que vemos é o efeito físico de uma doença crônica que existe muito antes dos sintomas e sinais comporem uma unidade a que chamamos enfermidade.

   E se não apresentamos nenhum sintoma ou sinal de uma patologia ainda, não é porque estamos saudáveis, senão que já somos doentes dinâmicos e seus sintomas podem ser encontrados se pesquisar com cuidado e método.

OS SINTOMAS


   Quando estamos ainda sem a patologia clínica, facilmente evidenciada na consulta médica e até por leigos, apresentamos mudanças no comportamento de todo o nosso organismo gerando sintomas, que passam despercebidos e que são de muita importância para o reconhecimento da doença crônica, provocado pelo Miasma.

   Apenas se realmente estivermos saudáveis é que poderemos não apresentar nenhum desses sintomas que, na Homeopatia, chamamos de”Sintomas Dinâmicos Miasmáticos”.

   Por exemplo, uma criança esta bem, come , brinca, dorme de forma saudável, apenas nos mostra uma curiosidade que na mudança de tempo ela se resfria e tem febre e sintomas compatíveis com as Infecções das Vias Aéreas Altas.

   O que acontece, realmente, com essa criança que mostra-se aparentemente saudável?

   Não se adapta, na mudança de tempo não consegue se adaptar as mudanças climáticas mostrando com isso as Infecções tidas como “Resfriado”.

  Mas pegando uma “Lupa Clínica” e observarmos de perto notarão que ela, independente de estar ou não com o resfriado, apresenta sintomas e sinais mostrando que o organismo não vem bem.

   E porque o organismo não esta bem é que ela não vai se adaptar ao meio em que vive e mostrar a suscetibilidade que pode leva-la ao “resfriado”, por exemplo.

   E o que a faz se alterar a ponto de não se adaptar, ficar susceptível e adoecer?

   O Miasma, e são os sintomas da alteração do sistema orgânico provocado por ele que procuramos e, através da Lei dos Semelhantes, vamos aplicar um tratamento segundo a técnica da Terapêutica homeopática.


  A criança aparentemente saudável apresenta como sintoma dessa alteração miasmática, em um exemplo, o medo do barulho e de pessoas vestidas de palhaço, papai Noel, transpira muito na cabeça, dormindo apenas, e com cheirinho azedo; desejo acentuado por ovo (de preferência cozido);  friorento e gordinho.

   Neste exemplo, estes sintomas não tem muito interesse clínico para o exercício médico tradicional, senão que nenhum, mas para um homeopata ele mostra uma alteração do organismo por ação de uma doença dinâmica, o Miasma, que o alterando vai gerar a susceptibilidade a adoecer.

   Outros fatores serão externos ou da estrutura como seus órgãos ou sistemas vulneráveis mais as condições do meio em que vive.

O MIASMA


   Podemos então montar uma imagem assim.

   Quando adquirimos nossa doença dinâmica, e nosso organismo não conseguiu evita-la, sofremos uma alteração no organismo todo.

  Na verdade, o que alterou foi a estrutura de controle que nos faz ser uma unidade perfeita, mesmo sendo formado por partes e células.

   Diante disso, nosso sistema orgânico mostra-se incapaz de se adaptar plenamente na inteiração como universo, e disso decorre a não adaptação e seu cortejo de problemas que chegará até a enfermidade como conhecemos.

 O Homeopata estuda esse estado de alteração para provocar uma resposta recuperadora, uma vez que o sistema não consegue perceber a contento o mal que lhe aflige.

   O Miasma é a interferência que muda a capacidade de interagir com o meio, interfere no controle tornando-o susceptível ao universo.

   Se temos uma gastrite crônica o queremos saber é como o sistema falhou a ponto de gerar a gastrite e o porquê ele falha e qual a “cara” daquilo que interferiu para provocar as alterações a jusante.

UM EXEMPLO


   Tive um Caso de Bronquite Crônica em que o paciente, um menino de 10 anos, passava o maior tempo do dia com chiados audíveis a distancia. Intercalavas dias com broncoespasmo intenso que o obrigava a ir a um pronto atendimento para tomar medicações injetáveis e inalações. Fazia uso crônico de medicações para controlar o mal e o resultado era insatisfatório a ponto da mãe vir me procurar para uma solução. 

   Examino-o por completo e apesar de muitos sintomas apontarem para um padrão de alteração, encontro três sintomas que me mostravam outra coisa, uma complicação do miasma fundamental, e que hoje consideramos outro miasma.

    Eu tinha que decidir pelo evidente ou pelo quase oculto sinal de que um miasma.
Uma vez observado, sabia o que tinha que fazer, desconsiderei a patologia em sua visão ampla e prescrevi para debelar o miasma que se mostrava com poucos sinais objetivos.

   O medicamento prescrito não tinha em sua descrição patogenética nada da bronquite crônica, alias pouquíssimos sintomas pulmonares.

    A resposta foi estupenda!

    Não só desapareceu a Bronquite Crônica como que milagre, depois de uma exoneração catarral que durou dois dias, como o garoto mostrou uma mudança enorme no comportamento, e o seu desenvolvimento, tanto social como escolar, se magnificou.

   Tratei o Miasma e não a doença que víamos como uma entidade nosológica crônica, e sumindo a causa some a enfermidade.

   O garoto hoje é um homem de sucesso profissional, casado com dois filhos pequenos e saudáveis que tenho a grata satisfação de acompanhar.

   A Bronquite como expressão de um Miasma crônica que lhe causava tal discrasia desapareceu e em seu lugar não restou nada alem de saúde.

   O Miasma como sendo a influência mórbida primeira, que cria as condições para o desenvolvimento dos males humanos  só pode ser considerada como a verdadeira Enfermidade do ser humano.

   A resolução dela é a solução para se conquistar a saúde plena. 


terça-feira, 3 de novembro de 2015

UM EXEMPLO DA HOMEOPATIA EM UM CASO CRÔNICO GRAVE


Endereçaram-me algumas perguntas relativa ao assunto da matéria anterior.
Perguntavam-me se a atuação na Homeopatia era realmente suficiente nos quadros graves, e se eu poderia dar algum exemplo real.
O que é realmente suficiente num caso grave?
Todo ato médico que o paciente precisa para se manter vivo e se curar é o suficiente.
Nesses casos, a atuação do médico deve ser precisa e a avaliação do paciente deve ser a mais rigorosa possível.
Vou contar um caso, didático a meu ver, que mostra a atuação da Homeopatia por um ângulo não muito visto hoje em dia.

A SENHORA X 

Senhora X era uma senhora muito alegre, tinha 68 anos de vida, e mostrava muito mais devido a uma vida difícil que tivera.
Era mãe de sete filhos, e era muito querida por seus parentes, principalmente por um neto que lhe dava toda a atenção possível.
Era portadora de Cardiomegalia, coração grande, e Insuficiente, coração fraco. Vinha se tratando há anos, e a doença evoluía lentamente. Apresentava veias varicosas numerosas nas pernas.
Repirava mal e se cansava facilmente devido a Insuficiência cárdica.
Tinha em seu histórico várias internações pela cardiopatia, e já estivera na UTI na última vez e tivera alta hospitalar porque, no caso dela, os médicos diziam que não tinha mais o que fazer.
Ficava em casa sob os cuidados de seus familiares.

O CHAMADO

Numa tardinha, recebi um pedido de consulta domiciliar com urgência.
Fui para lá, e encontro a senhora X deitada, com cabeça alta em uns 45° ou mais, num quarto meio escuro e com algumas pessoas no quarto pequeno,  o que dava um aspecto ruim e pesado.
Ela respirava mal, tinha um tom cinza arroxeado, e olhava denotando muita ansiedade.
Apresento-me e sento em uma cadeira do lado do seu leito e tomo-lhe o pulso.
“Era o samba do criolo doido”. Era irregular, lento, fraco e pouco amplo. Falhava a cada três ou 5 batidas do coração.
De repente, ficava cheio e mais duro, e logo depois voltava ao rítimo inicial. Qualquer movimento o pulso disparava e a senhora X dizia que tinha a impressão de que o coração fosse parar.
A ausculta mostrava extrassístoles e uma plêiade de sinais da Insuficiência Cardíaca congestiva; apresentava muito edema de membros inferiores, região sacra, e mostrava a jugular cheia.
Os esforços eram quase impossíveis, mesmo andar, quando vinha uma canseira intensa e sentia-se muito fraca, principalmente de manhã.
Outro sintoma era os dedos adormecidos da mão, e o acordar subitamente a noite sentindo-se sufocada.
Logicamente os sintomas do mal, percebidos ao exame físico, que estavam presentes eram muito “floridos”, no tórax, abdomem, membros, pescoço, etc.
Fiquei a observa-la para ver além dos sintomas físicos o que poderia notar.
Vi um copo com algo esverdeado e pergunto o que era.
Informaram-me que ela pedia chás amargos que lhe davam prazer e lhe aliviavam.
Conversando com ela pude notar uma ansiedade pelo que viria a acontecer, achava que teria que se dar mais ao neto e a uma filha. Questionava-se o que aconteceria com eles se morresse. A ideia da morte lhe incomodava.
Conta-me também ter uma angustia a noitinha quando pensava com remorso em algumas coisas que tinha feito na vida.  
Para fazer o exame físico, no sentar-se, mover-se noto grande pesadez.

O MEDICAMENTO

Então entre todos os sintomas esperados do quadro físico, me pergunto qual me mostraria mais que a enfermidade física, por assim dizer,  e mais um pouco do doente para poder dar um “Simillimum”, o mais exato a doença dela.
Chego sem dúvida ao DESEJO POR AMARGOS, que no caso era um Key Note, a chave para entender o processo dinâmico doente.
Foi sem dúvida o meu sintoma diretor, outro sintoma que ajudou foi a sensação do coração parar, mais a situação ansiosa-angustiosa. O que, juntos, para mim tinha fechado o quadro facilmente.
Dei-lhe uma dose única de Digitalis purpurea 30CH, uma dose única longe de refeição, e pedi uns dez dia para nova consulta.

A NOVA CONSULTA

Em nove dias me ligam porque ela estava mal.

Vou, novamente a tardinha por coincidência.
Chegando lá tinha muitas pessoas na frente da casa, parecia festa, e assim que chego não tiram os olhos de mim.
Fiquei muito constrangido de ver aquelas pessoas ali me olhando, e ao passar abriam espaço.
Ouço alguns comentários: como é novo!, é ele?, achei que fosse careca... etc.
Entro e lá dentro não tinha muita gente, que alívio.
Logo me levam a um outro quarto.
Ela estava deitada e sorriu ao me ver, e disse um lindo:
- Oi doutor.
- Oi senhora X
E me contaram que ela estava com diarreia intensa há um dia e começou a ficar fraca e com câimbras. Tudo que punha na boca vomitava e hoje estava fraca.
Achei graça, porque pensei encontra-la morrendo da insuficiência cardíaca e ela estava com um quadro de vômito com diarreia aguda.
Pude notar estar ela desidratada, e vi que era a vez de usar a Isopatia, e prescrevi um soro por via oral, uma dieta adequada, e um medicamento homeopático para o quadro agudo.
Pergunto como ela estava e prontamente me respondem que vinha muito bem, que estava andando, comendo bem, conversava sem cansar e que até a cor tinha mudado.
Não vi isso naquele quadro com pouca luz, mas ela estava desidratada.
Saio e peço notícias se não evoluir como prognosticado por mim, e que a veria em 30 dias.

O RETORNO

Dentro desse mês eu tive que mudar de consultório, e pedi que avisassem a todos o clientes.
Como o pessoal da senhora X estava muito quieto pedi par que não ligassem porque achei que talvez eles estivessem sofrendo pelo luto.
Eu não a tinha visto melhor, e minha impressão era o da primeira consulta.
Passaram-se vinte dias de consultório novo quando me aparece para consulta a senhora X e sua filha, bravas por eu não ter avisado da mudança do consultório.
Ela tinha vindo andando, e estava já em atividades sem canseira, sem a cor horrível cianótica que tinha.
Avaliei-lhe, examinei e fiquei pasmo ao vê-la tão bem.
Lógico que o coração continuava grande e com extrassístoles, mas a função cardíaca tinha melhorado muito.
Evolui por mais duas vezes e ela ficou completamente bem e estável, voltando inclusive a sair para fazer compras, e acompanhar o neto em alguns passeios.
Não a vi mais por uns cinco anos.

A VOLTA

Novamente pedem-me uma consulta domiciliar para ela depois desse tempo todo.
Vou novamente, e chegando lá a encontro deitada, um pouco cianótica, com queixa de palpitações violentas com constrição no peito e muita falta de ar, acompanhada de falta de ar mesmo em repouso. Novamente esta de cabeceira alta.
Parecia o primeiro quadro.
O neto, ansioso, me pergunta o porquê sua avó faz barulho ao engolir, e pergunto como assim.
Ele vai a cabeceira, pega um pouco de água no copo e da para a avó tomar.
- TRUUK, TRUUK – pode se ouvir claramente.
- Esse barulho. Desde que ficou mal faz esse barulho para engolir líquidos ou sólidos.
Pronto é um dos sintomas que eu queria.
Repertorizo e dou-lhe uma dose de Hydrocyanicum acidum 30CH uma só dose.
Em dez dias me dizem que ela tinha voltado a ficar boa e peço que a levem no consultório então depois de vinte dias.
Depois disso não soube mais dela.
Três anos após, soube que ela tinha sido internada na UTI muito mal e morreu.

FIM 

Como ela tinha voltado a ficar boa não voltaram mais. É muito comum isso.
Esse quadro eu acho muito didático que nos mostrar como atua a Homeopatia em casos em que o tempo é muito importante devido a gravidade do caso.
Um dia, por acaso, encontrei o cardiologista que a havia acompanhado antes de mim.
Trocamos informações e ele ficou muito espantado com o que disse sobre ela e quis saber mais sobre a Homeopatia porque, como ele dizia, “parecia milagre”.

  

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

HOMEOPATIA PODE TRATAR TODAS AS DOENÇAS?


Vi várias matérias na “mídia” que tentam responder a esta pergunta.

Respondem a ela desde pós-doutorados até jornalistas curiosos, entusiastas e críticos.
Comum nos dias de hoje, a super especialização criou o hábito de se falar sem dizer, de se afirmar sem o saber suficiente, de informar sem acrescentar. Tudo é um jargão, ou uma afirmativa que pode ser interpretada conforme a ansiedade do leitor.
Então, vamos tentar deixar tudo isto um pouco mais claro, e se você, assim mesmo, se sentir confuso, bom, então falhei no meu objetivo.

VISÃO CLINICA E ESPECIALIZADA

A Medicina é ainda a velha Medicina.
Hipócrates deu a estrutura médica para que se desenvolvessem, no tempo, o método de curar as pessoas, de afastar a dor e limitar o mal, e  ainda, se possível, manter a saúde das pessoas.
Os séculos se incumbiram de desenvolver técnicas e acumular fatos e conhecimentos. Não precisa  dizer que se juntou muito conteúdo, conhecimentos em nome da Medicina.
Mas, apesar do grande conteúdo acrescentado no tempo,  o conhecimento prático manteve uma relativa ordem no corpo médico, seguindo o método de estudo vigente em cada período.
O profissional  médico foi se destacando no tempo ante a todo este conhecimento e tomando consciência do que era Saúde e Doença.  Sobre a maneira de curar, de inspecionar e até de como formar outro médico.
Quando se acumula conhecimentos comprovados e estudados, e se aprende as hipóteses mais prováveis, quando se conhece o que não é um fundamento de um fato, em fim quando se tem o conhecimento básico sobre o ser humano, sobre sua estrutura e função saudável, e, por outro lado também, em relação as patologia e suas mazelas como alteração do estado de saúde, dizemos que o indivíduo esta embasado a aprender Medicina.
Então esse pupilo vai a prática médica e vai aprender desde como ouvir e saber o que ouve, reconhecer o que é sintoma e os sinais da alteração mórbida, perceber os ruídos do humano doente, aprender a ver, tocar, cheirar, ouvir a doença com todo o seu cortejo.
Aprende como um sinal ou sintoma apareceu, desenvolveu, e como o estado de uma doente foi o “empilhar” de consequências de suas alterações da saúde.
Nesse caso então, começa a aparecer uma Médico.
Esse médico que consegue formular uma Hipótese Diagnóstica depois de uma consulta médica porque percebe e começa a entender a doença, a avaliar uma pessoa, é um Clinico.
Ele tem como ferramenta de trabalho o conhecimento médico amplo, limitado a sua capacidade de processar o volume de conhecimentos médicos, as técnicas médicas de estudo e interpretação  das enfermidades num doente, e acima de tudo consegue ter desenvolvido, e em desenvolvimento em sua vida prática, o RACIOCÍNIO MÉDICO proveniente da integração de todo o conhecimento médico. Além disso, sabe rapidamente buscar informações, através da Pesquisa Médica,  para o exercício profissional.
O médico clínico é exímio em fazer uma relação médico-paciente ser proveitosa, e geralmente ocupa a posição do elemento de apoio e orientação durante toda a doença.
Para um clinico não cabe a informação “humanizar” porque o seu ato médico é todo ele um ato humanizado.
Na visão especializada do profissional médico há uma sequência de atos protocolados, esperados e previstos. Há uma atitude protocolada.
Há um protocolo para se obter sintomas, pesquisar em exames, interpretar e tomar conduta que também é protocolada.
Dentro das superespecialidade isto é rotineiro e necessário devido às ações extremamente  complexas envolvidas.
Também o é esperado nas urgências e emergências porque torna a ação médica mais rápida, muito embora nas urgências o raciocínio consegue, de forma mais barata e rápida, ser mais eficaz. Muitas vezes a indicação da ação nestes casos é mesmo protocolar.
No âmbito da promoção e manutenção da saúde, área de atuação máxima do médico clínico, não cabe muitos protocolos porque a atuação tem por base o raciocínio livre, outra postura que não esta pode levar a erros que podem comprometer a saúde do indivíduo.
Então se você tiver um clínico e tiver que especializa-lo, será tarefa fácil, mas se ao contrario do que foi dito for “generalizar” um médico especialista vamos ter problemas e algumas vezes será quase impossível.
Há duas posturas e duas visões distintas.
Um clínico vê uma pessoa com sintomas e sinais que lhe causam limitação e sofrimento como decorrência da alteração da saúde por uma enfermidade.
O especialista vê, geralmente, uma doença que acomete um enfermo,  contra o que deve aplicar um protocolo de ação.
Ambos visam a mesma coisa, mas com posições diferentes.
No segundo caso há uma necessidade ética de se estimular a humanização do atendimento devido ao alto grau técnico envolvido.
No primeiro a ação do clínico é em si uma ação médica humanizada.

A HOMEOPATIA E SUA VISÃO CLÍNICA    


Bem, se formos verificar como trabalha um médico homeopata veremos um clínico em ação.
A Homeopatia é uma especialidade terapêutica eminentemente clínica. Poderia se dizer que é uma clínica de maior grandeza que um médico poderia praticar.
Para ser um Homeopata e ser efetivo como um bom profissional, antes de qualquer coisa, precisa ser um clínico bem formado. Precisa ter aprendido e sido treinado a ver como um clínico, cheirar como um clínico, ouvir como um clínico, e acima de tudo pensar como um clínico.
Na formação moderna, a formação básica para um clínico foi trocada pela da formação de um especialista. É reconhecidamente fácil de notar na medicina da escola americana. A escola europeia pelo menos até recentemente, era de cunho clínico.
Então se expusermos a Homeopatia a estudos por grupos de médicos com formação clínica  e outra de formação especializada notaremos posturas muito diversas, facilidade e dificuldades muito diversas.
É muito mais fácil para um clínico lidar com assuntos clínicos do que um especialista que se limita a áreas e patologias.
Não há melhor ou pior. Para cada nível de atuação há uma forma mais adequada de atuação.
Se numa cirurgia cardíaca de grande complexidade fôssemos empregar a clínica pura, certamente não haveria técnicas tamanha morosidade.
Por outro lado, se fôssemos levar um especialista a fazer clínica ampla, provavelmente levaria a pequenas confusões por falta da visão clínica no ato médico. Um exemplo é o déficit da vitamina D acidentalmente, uma lipossolúvel, em dieta contra gordura aos se pensar no colesterol.
A dificuldade da uniformidade entre homeopatas se da justamente devido a falta de formação clinica ou a insuficiência dela.

VOLTANDO AO TEMA

A visão de doença e doente tem uma conotação um pouco diferente entre médicos clínicos e especialistas.
Se levar isto para a Homeopatia a coisa fica um pouco mais complicado, por ser ela muito mais abrangente que a visão tradicional de doença.
A Homeopatia vê aquilo a que chamamos de doença como apenas a exteriorização de uma enfermidade dinâmica, ativa, preexistente, que se desenvolvia muito tempo antes de ser detectada fisicamente.
Quando vemos as enfermidades de forma super-distendida vemos síndromes. A Homeopatia vai além, porque estuda os eventos desde sua origem, define a origem e lhe propõe um tratamento.
Ela, a terapêutica homeopática, implica em ampliar o horizonte clínico para além dos limites do tradicional, porém não desconhecido.
Hipócrates já lhe enunciava o princípio na sistematização médica.
Na visão tradicional, não apenas na especializada, também vemos síndromes, porém num contexto muito mais limitado.
É deste ponto que começa a confusão quando dentro de uma modalidade se quer comparar a abrangência da outra, a eficiência e fazer trabalhos paralelos sob o ponto de vista de uma preponderantemente.
Não há paralelos, uma engloba a outra.
Se colocar o conteúdo do tradicional, por assim dizer, dentro da Homeopatia  ver-se-ha que não se muda o conteúdo, porque uma segue outra, uma generaliza outra particulariza.
Mas se inverter, tentar se colocar a Homeopatia dentro da tradicional não haverá espaço natural para ela.
Temos que lembrar que Hahnemann nada mais era que um médico doutorado, e com a visão de médico clínico que era entendeu como aplicar a Homeopatia de Hipócrates.
Sendo a medicina uma só, logicamente este fato existe, não por ser melhor ou maior a Homeopatia, mas por que parte-se do geral para particularização.

COMPARANDO PATOLOGIAS

Então quando queremos saber se Homeopatia cura ou não uma doença precisamos acima de tudo ver quais sintomas tomamos para se dizer que tal ou qual patologia foi curada.
Senão corre-se o risco de afirmar ou negar falsamente, não esquecendo que a nomenclatura de um estado patológico é conceitual e natural.
Um exemplo: Uma certa vez atendi um paciente que veio como a historia de Úlcera Péptica Duodenal tratada e curada, e que os sintomas voltavam.  
Sim, depois do tratamento os sintomas dispépticos tinham desaparecido mas a doença continuava ativa produzindo uma infinidade de mudança no indivíduo, mostrando ter afetado a adaptação do mesmo no universo em que vive, e disso a tesão mórbida que o estressou, causou uma hiperacidez gástrica, e diante de uma  predisposição ulcerosa fez a patologia Úlcera Péptica Duodenal.
Vi um caso de Arritmia cardíaca tratado com melhoras e com reincidência de tempos em tempos. Depois de um estudo vejo uma ansiedade de consciência ligada remordimento por remorso, com base religiosa. A ansiedade angustiosa lhe levava a um Vagotonismo, que também trazia sintomas gástricos e intestinais e alteração da salivação e gosto na boca.
Tratado e resolvida a ansiedade de consciência nunca mais teve o Vagotonismo e nem as arritmias, e me disseram a Homeopatia curou a arritmia cardíaca.
A Homeopatia tratou  Arritmia, a Ansiedade de consciência, os outros diversos  sintomas que vinham juntos, ou o doente?

O QUE A HOMEOPATIA DEVERAS CURA

Com o que já falamos, fica fácil pensar que há coisas muito diferentes, embora não sejam tanto assim por ser a mesma Medicina.
É como para onde se olha que muda o aspecto do observado.
Como disse clinicamente partimos do geral, e para Homeopatia ser mais ampla, começamos com uma visão deveras ampla.
No caso da arritimia o Cardiologista fez o papel dele, ouviu a arritmia, anotou os sintomas que  causavam no doente, fez um eletrocardiograma, e diversos estudos e a medicou.
Eu vi os sintoma outros do Vagotonismo além dos sintomas objetivos da Arritmia, perscrutei a esfera psíquica, porque o facies, a mascara do paciente, denunciava ansiedade e sofrimento, e cheguei na ansiedade de consciência depois de uma observação clínica cuidadosa.
Tratei o paciente como um todo e tudo foi se resolvendo, até a arritmia.
Como então dizer o que trata ou não na Homeopatia?

HOMEOPATIA PODE TRATAR TODAS AS DOENÇAS?

A resposta correta seria: sim a Homeopatia trata todas as doenças tratáveis por ela.
Parece brincadeira mas não é.
No que se refere a como a doença apareceu, se resultado da ação de “ENFERMIDADE DINÂMICA CRÔNICA OU AGUDA” sim todas praticamente. A limitação fica por conta do paciente, do  médico  e do medicamento .
As doença podem ser resultado de alterações genética, Síndrome de Down por exemplo; como ação contra  certos elementos nocivos ao corpo, como uma Asma desenvolvida por uma paciente a menores concentrações e uma substancia química chamada de TDI. Como reação a ação de certos venenos, picadas de peçonhentos etc.
Porém a grande gama de doenças agudas e crônicas são causadas por doenças dinâmicas que alterando o indivíduo comprometem a reação de adaptação do organismo ao universo obrigando a se “improvisar” e isto gera a tensa mórbida ou Suscetibilidade mórbida.
É a grande maioria das doenças, realmente.
Nas outras podemos ajudar muito, mas cura só prometemos nas doenças crônicas e agudas.
Fica difícil dizer se a Homeopatia cura isto ou aquilo porque na verdade o que tratamos é aquilo que os faz ficar doentes.
Mas generalizando, cura gastrite? Sim, cura, porque a maioria das doenças é resultado da ação da doença crônica dinâmica, e assim vai.
É difícil, e até mesmo impossível querer comparar as terapêuticas com seu modo de atuar.
Se é difícil ajustar a ação do clínico com o especialista imagina então do Homeopata para o especialista.
A Homeopatia é extremamente eficaz contra as doenças crônicas num geral, sendo sua quase especialidade, mas nela cada caso é um caso e a resposta é sempre individual.
Como clinico digo que, de todas as terapêuticas existentes, a Homeopatia é muito eficaz e as vezes sua ação é determinante para  a sobrevida de um cliente[1].
Nos casos incuráveis para Homeopatia conseguimos melhorar o perfil deste doente. São casos raros, mas existem.
Nos quadros agudos ela é mais rápida e eficaz porém, por não ser paliativa os sintomas levam mais tempo para desaparecer.
Por exemplo, se eu tiver um quadro de amigdalite aguda purulenta e usar a Homeopatia curará, sem antibióticos, entre horas a três dias. Porém a febre ficará até a debelação  da infecção (mais ou menos dois dias), a dor até o fim da inflamação, mas subitamente o paciente melhora e esta pronto para exercer suas atividades.
Nos quadros graves, como na septicemia que fui chamado para dar apoio em uma UTI,  quando a antibioticoterapia falhou, a cura veio entre um a dois dias chamando a atenção dos colegas.
No  Brasil a Medicina lembra a produção de automóveis, e por outro lado, os nossos pacientes querem muitos exames e imediatismo e avaliam muito mal o que se ganha com a cura. Na verdade nem perguntam disso.
Fica então mais difícil se falar em tratamentos para cura, ainda mais que a cultura do é bom para isto ou para aquilo atrapalha qualquer um entender o que vem no cerne da ação pra se atingir aquilo a que chamamos de saúde.
Antes era comum, na sua simplicidade de ser brasileiro, pedir um remedinho bom para..., eram pessoas com baixa escolaridade de uma simplicidade bela e espontânea.
Hoje pessoas com nível universitário, doutorados, os “aculturados do século XXI” me pedem um remedinho nas esquinas da vida, como se tudo fosse excessivamente simples.
O preço é que damos o tal remedinho despretensioso e ele não funciona e disso decorre que a Homeopatia não funciona ou não cura, o pior que eu não presto, sou um mal médico.
 Mas, se falando seriamente, a terapêutica médica homeopática, não só enriquece a clínica como é muito efetiva no tratar as pessoas e dão um apoio extraordinário na manutenção da saúde e na sua promoção.
Não cabe hoje fazer afirmações especulativas sem verificar a fundo a questão. Na sua  maioria, as pessoas possuem uma visão distorcida da medicina e de seus assuntos.

CONCLUSÃO

Sim, a Homeopatia pode tratar todas as doenças tratáveis pelo método homeopático, assim como a Alopatia pode tratar todas as doenças tratáveis por ela.
O que dificulta a resposta é exatamente querer fazer um paralelo entre as terapêuticas para medir eficiência, porque a atuação depende da proposta de cada uma delas.
O enfoque muda de uma para outra.
Por exemplo, tratar uma gripe para Homeopatia é entrar com uma medicação que através de sua ação resolvamos a infecção viral, e não só tirar sintomas, ou manter os cuidados vitais.
No caso de um Hipertenso a Homeopatia verá um doente que desenvolveu um quadro de  hipertensão arterial. 
Para a Alopatia há um a doença Hipertensão Arterial Sistêmica a ser tratada.
Para Homeopatia deve-se tratar o doente se quisermos que ele não tenha qualquer enfermidade crônica ou aguda, seja ela Hipertensão arterial ou gripe, ou qualquer outra.
Já para a Alopatia, trataremos o paciente hipertenso para baixar os níveis pressóricos sanguíneos.
Não há certo ou errado, há posturas que caracterizam uma e outra terapêutica.
Há apenas uma medicina, isto tem que ficar claro,  e aqui falamos da  comparação de duas terapêuticas com intuito de verificar quem cura o que, duas dentro das cinco formas terapêuticas tradicionais na medicina.



[1] Logicamente falamos da Homeopatia aplicada respeitando os seus quatros princípios e suas leis que organizam a terapêutica.