terça-feira, 15 de agosto de 2017


FIZERAM-ME ESTA PERGUNTA ALGUMAS VEZES NESTE ANO.   


      
 - Doutor, sei que há doenças crônicas e agudas, mas não consigo imaginar o que seria esse tratamento crônico e agudo. Penso em agudo quando vejo darem remédio para dor, anti-inflamatório, antibiótico, mas na Homeopatia como é isso?

          DOENÇA CRÔNICA & DOENÇA AGUDA


Para começar resgataremos o significado de doença crônica sob a visão da Homeopatia.

Quando dizemos que uma pessoa está doente queremos dizer que ela tem uma alteração no corpo como um todo que a torna susceptível a ficar doente. Essa alteração mórbida do corpo como um todo é o que resultou a enfermidade em si.


Tomando a Asma Brônquica ou Bronquite Asmática como um exemplo, o que possibilitou que aparecesse essa patologia respiratória é a “Doença Crônica” do corpo como um todo. Foi o que provocou essa vulnerabilidade física a ponto de desenvolver a patologia Asmática.

 Falando de outra forma, a Asma Brônquica é a consequência de uma susceptibilidade causada por uma doença crônica anterior, chamada Miasmática, que gerou a susceptibilidade a enfermar, que dependendo da constituição genética do indivíduo, do meio ambiente, agentes desencadeantes,etc vai se manifestar como uma patologia conhecida.

O estado de alteração do corpo como um todo que permite o assentamento de patologias várias, o criador da vulnerabilidade mórbida no decorrer da vida, é o que chamamos de Doença Crônica. Nesse estado o corpo na sua interação com o universo não mostra um equilíbrio satisfatório para a continuidade da vida, e isto gera as tensões que possibilitarão o aparecimento das enfermidades. 

           QUADRO AGUDO


As verdadeiras doenças agudas são parecidas com que foi explicado na doença crônica só que, ao contrário de gerar um quadro que se arrasta pelo tempo, ela se manifesta de forma intensa e rápida, tendo como resultado ou a cura ou a morte. 

Mas há muitas situações além dessa forma aguda de adoecer que representa uma forma mais intensa e momentânea de um estado que, apesar de parecer ser um quadro agudo, é a manifestação “agudizada” de um mal crônico como o descrito. Há uma intensificação de alguns sintomas do quadro crônico.
As gripes epidêmicas são uma doença aguda, as complicações que aparecem nesses quadros agudos são manifestações “agudizadas” de uma doença crônica.

            TRATAMENTO


Aqui chegamos à pergunta de como é o tratamento de doenças crônicas e agudas.

Temos que entender como a verdadeira doença dinâmica crônica altera o estado de saúde do indivíduo além da enfermidade em questão.

Diante disso, teremos não só a “cara” da Enfermidade Crônica, o Miasma em Homeopatia.

Assim como um investigador pode traçar o perfil de um assassino em série avaliando a ação do assassino, sua maneira de agir, os sinais que deixa na sua ação, assim o médico pode conhecer a doença crônica durante toda a sua atividade.


A enfermidade crônica deixa-se conhecer pelas características de seu ato. E é por isso que a Homeopatia cobra muito a formação clínica de um médico, que vai ser usada extensivamente na prática desta arte de curar, a Homeopatia. 

Então, tendo essa informação, poderemos aplicar a Lei dos Semelhantes e provocar o organismo com um estímulo igual à situação mórbida que o corpo não consegue reverter. Tratamos nas doenças crônicas exatamente a Doença Crônica, Miasma, e assim a susceptibilidade a enfermar, que ela provoca, desaparece.

Damos um medicamento em uma dose única que é o espelho mais próximo daquela situação, e o corpo vendo-se agredido, mesmo que quase virtualmente, por um agente externo reage vigorosamente contra, o que deveria estar fazendo para se livrar do estado de doente crônico.

Fazemos isso sempre reavaliando nosso doente, e se durante a cura o quadro muda vamos mudando junto aplicando sempre a semelhança, o mais semelhante possível à doença crônica.

            O TRATAMENTO DO QUADRO AGUDO


No quadro agudo temos, antes de qualquer coisa, saber se é um quadro agudo realmente ou se é uma “agudização” de uma doença crônica, ou uma doença ambiental, carencial, ocupacional, etc.

Diante da doença aguda vou estudar para saber a mesma coisa: como a doença aguda alterou o estado de saúde e como posso medicá-la.

Como nos quadros agudos a dinâmica mórbida é vigorosa, entramos com a medicação homeopática com baixas dinamizações, que perde um pouco da especificidade, mas há ganhos em intensidade. 

Nesses quadros agudos repetiremos a dose para suplantarmos a intensidade da doença e permitir que o corpo perceba o estímulo e organize sua resposta curativa.

Nos quadros em que houve uma agudização dos sintomas de um quadro crônico devemos ter mais cautela, porque temos que ter em vista o estado crônico como um todo e verificar a necessidade e a possibilidade de se poder mexer ou não com medicamentos considerados agudos (segunda a semelhança sintomatológica e com baixa dinamização e repetição do medicamento).

Então quando temos baixas dinamizações teremos um quadro agudo?

Não, nem sempre, porque há quadros em que o paciente está tão debilitado que doses de baixa dinamização no quadro agudo pode vitimá-lo. Usamos nesse caso um procedimento mais parecido com o tratamento das enfermidades crônicas empregando medicações mais dinamizadas com bem menos repetições.

Usando uma dose mais dinamizada e acompanhando a ação do medicamento de perto, pode-se saber exatamente o que está acontecendo e o momento apropriado para repetir uma nova dose se isto for necessário. 

Acompanhei um quadro agudizado complicado de uma doença crônica em uma UTI. 

O paciente estava em coma há vinte dias e nada parecia resolver uma septicemia decorrente de uma embolização séptica na perna que começava a gangrenar. O tratamento seria tirar a perna do paciente para salvar-lhe a vida. Nesse momento resolveram me pedir ajuda. 

Dei uma dose única e em quarenta e oito horas a perna revitalizou, começou a sair sangue ao invés de pus, sumiu o mau cheiro e, o mais importante, a septicemia cedeu a ponto do paciente recobrar a consciência.

CONCLUINDO


Desculpem se ficou confuso, mas o assunto é grande e cheio de detalhes.

Resumi o que deu para ser mais claro, mas vou deixar dois quadros clínicos de um tratamento de doença aguda e crônica:

Caso clínico de doença agudizada:

Criança com quadro febril, alta temperatura, prostração, sede. A febre piora a tardezinha ( depois das quatro horas). A criança reclama de dor de garganta do lado direito onde eu vi placas de pus nas amígdalas.

Tomou Lycopodium clavatum 6CH de 2/2h por dois dias e mais dois de 4/4h e ficou bom novamente.

Quadro agudo, epidêmico.

 Na entrada de inverno muitas pessoas adoeceram e esta pessoa eu tratei com o seguinte quadro muito semelhante aos demais:

Febre alta, sem transpiração, com muita prostração; o paciente fica bravo se o incomodam quer ficar dormindo o tempo todo e não quer que o incomode. A temperatura na consulta estava 39,8°C. O que também chamava a atenção é que não tinha sede apesar da alta temperatura. Não possuía nenhum sinal físico de importância ao exame físico.

Foi dado Gelsemium 6CH de 2/2h por dois dias quando a febre caiu por completo e o paciente voltou ao normal sem outros sintomas.

Um quadro crônico:

Vou relatar um quadro de asma típico já que este foi o exemplo que dei ao falar de doença crônica.

A pessoa apresentava Asma, tinha diversos episódios de broncoespasmos principalmente quando resfriava ou gripava, o que fazia com frequência. Não “podia tomar um ventinho...”. 

Era uma pessoa friorenta, daquelas pessoas cheia de medos, principalmente de ficar louca. Tinha uma personalidade muito sensível, se assustava com história de coisas violentas e misteriosas, e se ofendia com facilidade. Muito simpática e alegre, daquelas que acorda cantando. É do tipo tranquila, faz tudo com muita calma.

Gosta de comer, é muito chegada em ovo e detesta café. 

Seu suores aparecem só em certas partes do corpo.  Teve diversas erupções eczematosas na pele na infância que deu muito trabalho para tratar.

Diante disso, o medicamento semelhante foi o Calcarea ostrearum que foi prescrito numa dose única com a dinamização 30CH que a melhorou 80% segundo a própria paciente. 

Sessenta dias após foi prescrita nova dose quando apareceram lesões de pele tal qual tivera no passado e a asma sumiu por completo.

Após seis meses, as lesões praticamente tinham sumido. Mas em algumas regiões onde havia desaparecido voltou a mostrá-la novamente e de forma leve. 

Nova dose de Calcarea na ducentésima dinamização e evoluiu rapidamente para cura total.

Hoje acompanho sua família, marido e dois filhos. 

Desde que a tratei nem gripe teve, e já faz quinze anos desde então!