sexta-feira, 30 de outubro de 2015

HOMEOPATIA PODE TRATAR TODAS AS DOENÇAS?


Vi várias matérias na “mídia” que tentam responder a esta pergunta.

Respondem a ela desde pós-doutorados até jornalistas curiosos, entusiastas e críticos.
Comum nos dias de hoje, a super especialização criou o hábito de se falar sem dizer, de se afirmar sem o saber suficiente, de informar sem acrescentar. Tudo é um jargão, ou uma afirmativa que pode ser interpretada conforme a ansiedade do leitor.
Então, vamos tentar deixar tudo isto um pouco mais claro, e se você, assim mesmo, se sentir confuso, bom, então falhei no meu objetivo.

VISÃO CLINICA E ESPECIALIZADA

A Medicina é ainda a velha Medicina.
Hipócrates deu a estrutura médica para que se desenvolvessem, no tempo, o método de curar as pessoas, de afastar a dor e limitar o mal, e  ainda, se possível, manter a saúde das pessoas.
Os séculos se incumbiram de desenvolver técnicas e acumular fatos e conhecimentos. Não precisa  dizer que se juntou muito conteúdo, conhecimentos em nome da Medicina.
Mas, apesar do grande conteúdo acrescentado no tempo,  o conhecimento prático manteve uma relativa ordem no corpo médico, seguindo o método de estudo vigente em cada período.
O profissional  médico foi se destacando no tempo ante a todo este conhecimento e tomando consciência do que era Saúde e Doença.  Sobre a maneira de curar, de inspecionar e até de como formar outro médico.
Quando se acumula conhecimentos comprovados e estudados, e se aprende as hipóteses mais prováveis, quando se conhece o que não é um fundamento de um fato, em fim quando se tem o conhecimento básico sobre o ser humano, sobre sua estrutura e função saudável, e, por outro lado também, em relação as patologia e suas mazelas como alteração do estado de saúde, dizemos que o indivíduo esta embasado a aprender Medicina.
Então esse pupilo vai a prática médica e vai aprender desde como ouvir e saber o que ouve, reconhecer o que é sintoma e os sinais da alteração mórbida, perceber os ruídos do humano doente, aprender a ver, tocar, cheirar, ouvir a doença com todo o seu cortejo.
Aprende como um sinal ou sintoma apareceu, desenvolveu, e como o estado de uma doente foi o “empilhar” de consequências de suas alterações da saúde.
Nesse caso então, começa a aparecer uma Médico.
Esse médico que consegue formular uma Hipótese Diagnóstica depois de uma consulta médica porque percebe e começa a entender a doença, a avaliar uma pessoa, é um Clinico.
Ele tem como ferramenta de trabalho o conhecimento médico amplo, limitado a sua capacidade de processar o volume de conhecimentos médicos, as técnicas médicas de estudo e interpretação  das enfermidades num doente, e acima de tudo consegue ter desenvolvido, e em desenvolvimento em sua vida prática, o RACIOCÍNIO MÉDICO proveniente da integração de todo o conhecimento médico. Além disso, sabe rapidamente buscar informações, através da Pesquisa Médica,  para o exercício profissional.
O médico clínico é exímio em fazer uma relação médico-paciente ser proveitosa, e geralmente ocupa a posição do elemento de apoio e orientação durante toda a doença.
Para um clinico não cabe a informação “humanizar” porque o seu ato médico é todo ele um ato humanizado.
Na visão especializada do profissional médico há uma sequência de atos protocolados, esperados e previstos. Há uma atitude protocolada.
Há um protocolo para se obter sintomas, pesquisar em exames, interpretar e tomar conduta que também é protocolada.
Dentro das superespecialidade isto é rotineiro e necessário devido às ações extremamente  complexas envolvidas.
Também o é esperado nas urgências e emergências porque torna a ação médica mais rápida, muito embora nas urgências o raciocínio consegue, de forma mais barata e rápida, ser mais eficaz. Muitas vezes a indicação da ação nestes casos é mesmo protocolar.
No âmbito da promoção e manutenção da saúde, área de atuação máxima do médico clínico, não cabe muitos protocolos porque a atuação tem por base o raciocínio livre, outra postura que não esta pode levar a erros que podem comprometer a saúde do indivíduo.
Então se você tiver um clínico e tiver que especializa-lo, será tarefa fácil, mas se ao contrario do que foi dito for “generalizar” um médico especialista vamos ter problemas e algumas vezes será quase impossível.
Há duas posturas e duas visões distintas.
Um clínico vê uma pessoa com sintomas e sinais que lhe causam limitação e sofrimento como decorrência da alteração da saúde por uma enfermidade.
O especialista vê, geralmente, uma doença que acomete um enfermo,  contra o que deve aplicar um protocolo de ação.
Ambos visam a mesma coisa, mas com posições diferentes.
No segundo caso há uma necessidade ética de se estimular a humanização do atendimento devido ao alto grau técnico envolvido.
No primeiro a ação do clínico é em si uma ação médica humanizada.

A HOMEOPATIA E SUA VISÃO CLÍNICA    


Bem, se formos verificar como trabalha um médico homeopata veremos um clínico em ação.
A Homeopatia é uma especialidade terapêutica eminentemente clínica. Poderia se dizer que é uma clínica de maior grandeza que um médico poderia praticar.
Para ser um Homeopata e ser efetivo como um bom profissional, antes de qualquer coisa, precisa ser um clínico bem formado. Precisa ter aprendido e sido treinado a ver como um clínico, cheirar como um clínico, ouvir como um clínico, e acima de tudo pensar como um clínico.
Na formação moderna, a formação básica para um clínico foi trocada pela da formação de um especialista. É reconhecidamente fácil de notar na medicina da escola americana. A escola europeia pelo menos até recentemente, era de cunho clínico.
Então se expusermos a Homeopatia a estudos por grupos de médicos com formação clínica  e outra de formação especializada notaremos posturas muito diversas, facilidade e dificuldades muito diversas.
É muito mais fácil para um clínico lidar com assuntos clínicos do que um especialista que se limita a áreas e patologias.
Não há melhor ou pior. Para cada nível de atuação há uma forma mais adequada de atuação.
Se numa cirurgia cardíaca de grande complexidade fôssemos empregar a clínica pura, certamente não haveria técnicas tamanha morosidade.
Por outro lado, se fôssemos levar um especialista a fazer clínica ampla, provavelmente levaria a pequenas confusões por falta da visão clínica no ato médico. Um exemplo é o déficit da vitamina D acidentalmente, uma lipossolúvel, em dieta contra gordura aos se pensar no colesterol.
A dificuldade da uniformidade entre homeopatas se da justamente devido a falta de formação clinica ou a insuficiência dela.

VOLTANDO AO TEMA

A visão de doença e doente tem uma conotação um pouco diferente entre médicos clínicos e especialistas.
Se levar isto para a Homeopatia a coisa fica um pouco mais complicado, por ser ela muito mais abrangente que a visão tradicional de doença.
A Homeopatia vê aquilo a que chamamos de doença como apenas a exteriorização de uma enfermidade dinâmica, ativa, preexistente, que se desenvolvia muito tempo antes de ser detectada fisicamente.
Quando vemos as enfermidades de forma super-distendida vemos síndromes. A Homeopatia vai além, porque estuda os eventos desde sua origem, define a origem e lhe propõe um tratamento.
Ela, a terapêutica homeopática, implica em ampliar o horizonte clínico para além dos limites do tradicional, porém não desconhecido.
Hipócrates já lhe enunciava o princípio na sistematização médica.
Na visão tradicional, não apenas na especializada, também vemos síndromes, porém num contexto muito mais limitado.
É deste ponto que começa a confusão quando dentro de uma modalidade se quer comparar a abrangência da outra, a eficiência e fazer trabalhos paralelos sob o ponto de vista de uma preponderantemente.
Não há paralelos, uma engloba a outra.
Se colocar o conteúdo do tradicional, por assim dizer, dentro da Homeopatia  ver-se-ha que não se muda o conteúdo, porque uma segue outra, uma generaliza outra particulariza.
Mas se inverter, tentar se colocar a Homeopatia dentro da tradicional não haverá espaço natural para ela.
Temos que lembrar que Hahnemann nada mais era que um médico doutorado, e com a visão de médico clínico que era entendeu como aplicar a Homeopatia de Hipócrates.
Sendo a medicina uma só, logicamente este fato existe, não por ser melhor ou maior a Homeopatia, mas por que parte-se do geral para particularização.

COMPARANDO PATOLOGIAS

Então quando queremos saber se Homeopatia cura ou não uma doença precisamos acima de tudo ver quais sintomas tomamos para se dizer que tal ou qual patologia foi curada.
Senão corre-se o risco de afirmar ou negar falsamente, não esquecendo que a nomenclatura de um estado patológico é conceitual e natural.
Um exemplo: Uma certa vez atendi um paciente que veio como a historia de Úlcera Péptica Duodenal tratada e curada, e que os sintomas voltavam.  
Sim, depois do tratamento os sintomas dispépticos tinham desaparecido mas a doença continuava ativa produzindo uma infinidade de mudança no indivíduo, mostrando ter afetado a adaptação do mesmo no universo em que vive, e disso a tesão mórbida que o estressou, causou uma hiperacidez gástrica, e diante de uma  predisposição ulcerosa fez a patologia Úlcera Péptica Duodenal.
Vi um caso de Arritmia cardíaca tratado com melhoras e com reincidência de tempos em tempos. Depois de um estudo vejo uma ansiedade de consciência ligada remordimento por remorso, com base religiosa. A ansiedade angustiosa lhe levava a um Vagotonismo, que também trazia sintomas gástricos e intestinais e alteração da salivação e gosto na boca.
Tratado e resolvida a ansiedade de consciência nunca mais teve o Vagotonismo e nem as arritmias, e me disseram a Homeopatia curou a arritmia cardíaca.
A Homeopatia tratou  Arritmia, a Ansiedade de consciência, os outros diversos  sintomas que vinham juntos, ou o doente?

O QUE A HOMEOPATIA DEVERAS CURA

Com o que já falamos, fica fácil pensar que há coisas muito diferentes, embora não sejam tanto assim por ser a mesma Medicina.
É como para onde se olha que muda o aspecto do observado.
Como disse clinicamente partimos do geral, e para Homeopatia ser mais ampla, começamos com uma visão deveras ampla.
No caso da arritimia o Cardiologista fez o papel dele, ouviu a arritmia, anotou os sintomas que  causavam no doente, fez um eletrocardiograma, e diversos estudos e a medicou.
Eu vi os sintoma outros do Vagotonismo além dos sintomas objetivos da Arritmia, perscrutei a esfera psíquica, porque o facies, a mascara do paciente, denunciava ansiedade e sofrimento, e cheguei na ansiedade de consciência depois de uma observação clínica cuidadosa.
Tratei o paciente como um todo e tudo foi se resolvendo, até a arritmia.
Como então dizer o que trata ou não na Homeopatia?

HOMEOPATIA PODE TRATAR TODAS AS DOENÇAS?

A resposta correta seria: sim a Homeopatia trata todas as doenças tratáveis por ela.
Parece brincadeira mas não é.
No que se refere a como a doença apareceu, se resultado da ação de “ENFERMIDADE DINÂMICA CRÔNICA OU AGUDA” sim todas praticamente. A limitação fica por conta do paciente, do  médico  e do medicamento .
As doença podem ser resultado de alterações genética, Síndrome de Down por exemplo; como ação contra  certos elementos nocivos ao corpo, como uma Asma desenvolvida por uma paciente a menores concentrações e uma substancia química chamada de TDI. Como reação a ação de certos venenos, picadas de peçonhentos etc.
Porém a grande gama de doenças agudas e crônicas são causadas por doenças dinâmicas que alterando o indivíduo comprometem a reação de adaptação do organismo ao universo obrigando a se “improvisar” e isto gera a tensa mórbida ou Suscetibilidade mórbida.
É a grande maioria das doenças, realmente.
Nas outras podemos ajudar muito, mas cura só prometemos nas doenças crônicas e agudas.
Fica difícil dizer se a Homeopatia cura isto ou aquilo porque na verdade o que tratamos é aquilo que os faz ficar doentes.
Mas generalizando, cura gastrite? Sim, cura, porque a maioria das doenças é resultado da ação da doença crônica dinâmica, e assim vai.
É difícil, e até mesmo impossível querer comparar as terapêuticas com seu modo de atuar.
Se é difícil ajustar a ação do clínico com o especialista imagina então do Homeopata para o especialista.
A Homeopatia é extremamente eficaz contra as doenças crônicas num geral, sendo sua quase especialidade, mas nela cada caso é um caso e a resposta é sempre individual.
Como clinico digo que, de todas as terapêuticas existentes, a Homeopatia é muito eficaz e as vezes sua ação é determinante para  a sobrevida de um cliente[1].
Nos casos incuráveis para Homeopatia conseguimos melhorar o perfil deste doente. São casos raros, mas existem.
Nos quadros agudos ela é mais rápida e eficaz porém, por não ser paliativa os sintomas levam mais tempo para desaparecer.
Por exemplo, se eu tiver um quadro de amigdalite aguda purulenta e usar a Homeopatia curará, sem antibióticos, entre horas a três dias. Porém a febre ficará até a debelação  da infecção (mais ou menos dois dias), a dor até o fim da inflamação, mas subitamente o paciente melhora e esta pronto para exercer suas atividades.
Nos quadros graves, como na septicemia que fui chamado para dar apoio em uma UTI,  quando a antibioticoterapia falhou, a cura veio entre um a dois dias chamando a atenção dos colegas.
No  Brasil a Medicina lembra a produção de automóveis, e por outro lado, os nossos pacientes querem muitos exames e imediatismo e avaliam muito mal o que se ganha com a cura. Na verdade nem perguntam disso.
Fica então mais difícil se falar em tratamentos para cura, ainda mais que a cultura do é bom para isto ou para aquilo atrapalha qualquer um entender o que vem no cerne da ação pra se atingir aquilo a que chamamos de saúde.
Antes era comum, na sua simplicidade de ser brasileiro, pedir um remedinho bom para..., eram pessoas com baixa escolaridade de uma simplicidade bela e espontânea.
Hoje pessoas com nível universitário, doutorados, os “aculturados do século XXI” me pedem um remedinho nas esquinas da vida, como se tudo fosse excessivamente simples.
O preço é que damos o tal remedinho despretensioso e ele não funciona e disso decorre que a Homeopatia não funciona ou não cura, o pior que eu não presto, sou um mal médico.
 Mas, se falando seriamente, a terapêutica médica homeopática, não só enriquece a clínica como é muito efetiva no tratar as pessoas e dão um apoio extraordinário na manutenção da saúde e na sua promoção.
Não cabe hoje fazer afirmações especulativas sem verificar a fundo a questão. Na sua  maioria, as pessoas possuem uma visão distorcida da medicina e de seus assuntos.

CONCLUSÃO

Sim, a Homeopatia pode tratar todas as doenças tratáveis pelo método homeopático, assim como a Alopatia pode tratar todas as doenças tratáveis por ela.
O que dificulta a resposta é exatamente querer fazer um paralelo entre as terapêuticas para medir eficiência, porque a atuação depende da proposta de cada uma delas.
O enfoque muda de uma para outra.
Por exemplo, tratar uma gripe para Homeopatia é entrar com uma medicação que através de sua ação resolvamos a infecção viral, e não só tirar sintomas, ou manter os cuidados vitais.
No caso de um Hipertenso a Homeopatia verá um doente que desenvolveu um quadro de  hipertensão arterial. 
Para a Alopatia há um a doença Hipertensão Arterial Sistêmica a ser tratada.
Para Homeopatia deve-se tratar o doente se quisermos que ele não tenha qualquer enfermidade crônica ou aguda, seja ela Hipertensão arterial ou gripe, ou qualquer outra.
Já para a Alopatia, trataremos o paciente hipertenso para baixar os níveis pressóricos sanguíneos.
Não há certo ou errado, há posturas que caracterizam uma e outra terapêutica.
Há apenas uma medicina, isto tem que ficar claro,  e aqui falamos da  comparação de duas terapêuticas com intuito de verificar quem cura o que, duas dentro das cinco formas terapêuticas tradicionais na medicina.



[1] Logicamente falamos da Homeopatia aplicada respeitando os seus quatros princípios e suas leis que organizam a terapêutica.