terça-feira, 20 de dezembro de 2016


AS CARACTERÍSTICAS DOS MEDICAMENTOS HOMEOPÁTICOS



Certa manhã, uma família, formada por um casal com uma criancinha, me liga.

Diziam que a criança rejeitava a tomar a dose única de um medicamento homeopático, e ao forçá-la a tomar chorava porque doía a boca e a garganta.

Resolveram cheirar o medicamento que sobrava no vidro e diziam que tinha um forte cheiro de álcool.

Por outro lado, um senhor procurou-me para dizer que tinha sérias dúvidas sobre o medicamento homeopático que tomara porque nao tinha cheiro ou gosto de nada.

Se não tem gosto não serve como medicamento e se tem, ou dói, pode haver algo de errado?

Qual realmente é o aspecto do medicamento homeopático?

Tem realmente algum sabor?

Quais são, realmente, as características dos medicamentos homeopáticos?

Medicamento Homeopático tem gosto?

O caso da criancinha, que referiu que o medicamento até doía, aponta-nos que o medicamento não estava devidamente processado para uma dose única.

Quando tomamos uma dose única, na verdade, estamos tomando uma preparação adequada para uma tomada só, como se dizia antigamente uma beberagem.

Pega-se o vidro e toma-se tudo de uma só vez.

Para isso, o medicamento é diluído em água para que possa ser assim usado com a capacidade máxima de estimular nosso sistema sensitivo como um medicamento dinamizado. 

A proporção depende da experiência de cada médico e o volume geralmente o adequado para garantir que o sistema tenha um nível de estímulo medicamentoso adequado ao tomá-lo. Por exemplo, trinta mililitros são suficiente para um adulto, a metade disso, quinze mililitros para uma criança.

Assim sendo, na diluição normalmente usada, não teríamos condição de sentir o cheiro ou o sabor do álcool. Tanto isso é uma verdade, que normalmente as crianças nos perguntam se irão novamente tomar a aguinha, quando em consulta.

No caso da criancinha, que referiu gosto ruim e que doía quando tomava a dose única, mostra-nos que ela foi erroneamente preparada.

A diluição era inadequada, e em casos assim, não foi realmente diluído. O medicamento é guardado na forma de uma solução alcoólica a oitenta por cento o que é suficiente para doer, arder.

Mas e se insípido e inodoro, há algo errado?

Normalmente, se for bem preparado essa é a característica do medicamento homeopático para dose única. É uma preparação onde trinta mililitros de solução final terá umas dez gotas da solução hidroalcoólica.

Portanto, não dá para sentir o gosto ou o cheiro do álcool.


Se nada for acrescentado a aǵua não agirá, embora mantenha as características de aroma e sabor de uma preparação homeopática em dose única.

Formas de apresentação do medicamento

Normalmente a apresentação de doses únicas são líquidas onde uma proporção do medicamento é diluída na água para ser todo o volume tomado uma só vez.

Mas ele pode vir envasado como um medicamento puro, para ser diluído pelo paciente na hora de tomar.

São conhecidas popularmente como gotinhas homeopáticas.

As pessoas pegam um quantidade de água, pingam algumas gotas e tomam o conteúdo.


O pingar diretamente na boca pode ser usado, mas diluído na água tem uma ação mais pronta, como atesta os casos graves onde dá para se notar a diferença entre pingar as gotinhas ou administrá-la depois de uma prévia diluição em água.

No caso de ser usado diretamente na boca as apresentações em glóbulos são mais eficazes, muito embora, ainda assim a diluição dos glóbulos provoca muito mais eficazmente a resposta medicamentosa esperada para curar.

Também existem os papeletes que colocados na água que deverá provocar o mesmo efeito da diluição das gotas na água.

Preparo do medicamento para uso em casa


Sempre me perguntam: quantas gotas devo tomar do medicamento prescrito? Seis gotas são realmente suficiente?, E quatro? 


Uma vez uma senhora me ligou desesperada porque seu filho tinha comido todas os glóbulos de um medicamento na sexta dinamização:

- Vai morrer doutor? devo ir a um pronto socorro para fazer lavagem estomacal? - falava-me em pânico com a probabilidade de perder o filho com um acidente por ingestão indevida de medicamento.

Não morreu como era o esperado por ser um medicamento homeopático.

Ele, apesar de ter tomado o vidro todo do medicamento na sexta centesimal ele, na verdade tomou uma só dose.

A dose prescrita tem que ser o suficiente para que o sistema sensitivo perceba a dose para provocar a resposta restauradora e curativa do organismo.

Se a cada minuto ele tomar um só glóbulo ele terá tomado uma dose por minuto o que, depois de um certo tempo, seria danoso ao sistema.

Normalmente entre quatro a seis gotas em água é o suficiente para provocar a resposta homeopática. Se glóbulos bastam quatro deles.


Enfim, é muito comum ouvirmos exclamações como “ essa aguinha milagrosa”, “quem diria que essas gotinhas pudessem fazer tanto!”

Com certeza não é para nenhuma criança chorar para tomar a medicação, ao contrário, depois de um tempo de tratamento negam com veemência qualquer outra forma de medicamento.




terça-feira, 15 de novembro de 2016

UMA EXPERIÊNCIA ANTE A CURA DE UM QUADRO AGUDO



Às vezes, no dia a dia da prática médica acontecem coisas que por si só nos ensinam muito.

Essas experiências vão muito além das técnicas utilizadas nos dias de hoje em medicina, ou de qualquer outro texto Médico-científico descrito.

Se pensarmos na Homeopatia, que é uma terapêutica que atravessa milênios e que com Hahnemann ganhou clareza e praticidade, essas experiências são ainda muito mais ricas e valem muito para o observador sem preconceitos.

Nos quadros agudos, quando a ansiedade e a angústia dos familiares bate forte nos envolvidos, é comum se tentar algo que remova rapidamente os sintomas como se isso garantisse que o mal não exista, muito embora o doente continue a adoecer mais e mais até o ápice da patologia aguda em questão.

Mas, se o que queremos é curar o indivíduo doente, porque não suportar um tratamento mais adequado e pararmos de tirar sintomas e pôr em risco a vida daqueles que amamos?

Pois foi num quadro agudo que assisti a reação de espanto de um pai que ainda não tinha visto uma cura homeopática e a conclusão que teve mediante a experiência vivida.

A verdade está na realidade do dia a dia do que fazemos e qualquer um pode atestar isso como foi o caso que contarei.

UMA CRIANÇA DOENTE, PAIS ANSIOSOS


Uma criança estava com febre média com sintomas gerais e inespecíficos de qualquer patologia, parecia mesmo uma virose que iniciava.

O paciente, uma criança de um a dois anos, primeiro filho de um casal jovem.

No transcorrer de um ou dois dias, os sintomas começaram a aparecer.

A febre subiu, a criança começou a apresentar uma face típica com olhos inchados e semi-fechados, rosto vermelho, olhos lacrimejando, nariz semiobstruído e começando a escorrer. Estava sonolento, irritado, querendo ficar quietinho.

Na evolução apareceram os catarros que saiam pelos olhos em grande quantidade, nariz, e a tosse que antes era seca e passara a apresentar uma expectoração grossa, e como as demais secreções cinzentas, além de catarro semelhante no ouvido médio.

Nesse momento a febre começou a subir e chegou  a fazer a noite quarenta graus celsius, quando os pais me trouxeram.

A mãe fora tratada por mim desde criança com a Homeopatia e estava mais segura, embora ansiosa e angustiada com a doença de seu primogênito. Mas o pai, que mal sabia o que era a Homeopatia, estava tenso e com medo.

Foi examinado e medicado, e dado para eles o prazo de dois dias para sumir a febre e melhorasse os sintomas.

Explico a evolução do quadro, a duração da febre por esses dois dias e que esta se comportaria subindo um grau descendo um grau. Uma vez informado sobre o como observar a evolução e os cuidados gerais que tinham que dar para o filho, os dispensei esperando revê-los em quatro a cindo dias depois.

O RETORNO À CONSULTA


Depois de quatro dias eles retornam conforme minha orientação na primeira consulta.
O casal entrou sorrindo com a criança no colo a me olhar desconfiada. Sorrio para ela e recebo de volta um lindo sorriso.

A criança tivera febre por dois dias conforme eu disse, e saiu um montão de secreção no decorrer. Depois cedeu a febre e as secreções, voltando a criança à sua atividade normal, animada e sorridente.

O menino estava bem, ativo embora um pouco irritado, o que é de se esperar neste momento.


Examino-o cuidadosamente e não encontro nada mais de anormal, nem o catarro que inundava o ouvido médio, tudo normal.

O pai de pé me olhava durante todo o exame físico, durante todo o diálogo com a sua mulher.

Sento na minha escrivaninha e ele de pé me fala:
- É só ter paciência, doutor , que tudo se resolve. Fiquei impressionado com a evolução da cura. Fez exatamente conforme o senhor disse e evoluiu até não ter mais nada . Meu filho nem parece que teve esse quadro todo! É só ter paciência e dar o remédio e o quadro desaparece… fiquei espantado.
Foram os dois dias e pronto, fiquei espantado!

Realmente mostrava espanto, estava extasiado em ver aquela terapêutica tratar de forma tão precisa e tão rápida.

Nunca tinha visto esse tipo de tratamento.

Para sua mulher, que já estava familiarizada com a Homeopatia foi somente mais uma cura, mas para ele “ era só ter paciência”.
Isso falava porque os sintomas não foram paliados, os sintomas não foram retirados e apenas tratamos o doente, que evoluiu naturalmente para cura.

COMENTÁRIO


Quando o vi falando lembrei que esta experiência seria útil a muitos que se tratam com a Homeopatia.

Quando diante de uma quadro agudo eles medicam sintomas para se verem livres da angústia que a doença gera.

Realmente, hoje ante a um quadro agudo, é muito difícil convencer os pais a não fazerem nada mais que a Homeopatia, a aguardarem a resposta orgânica e verem seguramente seu familiar doente curar tranquilamente com o mínimo de gasto de vida e sem agravar com complicação nenhuma.

A experiência fala por si, nos mostra como naturalmente saramos, emergimos da doença com a vida toda retomando seu vaso humano.

Aquele pai estava maravilhado com algo tão corriqueiro.

Muitas pessoas sofrem porque resolvem tratar com a Homeopatia. O medo ao ver os sintomas persistirem após algumas poucas doses do medicamento os fazem medicar os sintomas paliativamente não dando tempo ao corpo  de organizar a cura. Medicam com alopatia causando um dano ao doente, prolongando o tempo de recuperação e impondo uma carga a mais ao corpo sobrecarregado pela doença.

Aquela experiência queria que fosse de todos os que se tratam com a Homeopatia, para que pudessem ver e entender do que o nosso sistema orgânico é capaz, e de como essa terapêutica opera curando as pessoas através da mais natural resposta orgânica que é muito eficiente e única no processo de cura.  

FINALIZANDO


Não digo aqui que a Alopatia não tenha seu valor, que outra terapêutica, seja qual for, também não tenha seu valor na cura, mas que a Homeopatia é soberana no tratamento das pessoas com uma enfermidade aguda, ou mesmo crônica, porque provoca a resposta restauradora no organismo frente a uma enfermidade, como vimos aqui nesta caso agudo.


Aliás, a Homeopatia tratava as tão comuns Pneumonias do começo do século XX, que ceifou tantas vidas de crianças, enquanto nada se podia fazer com qualquer outra terapêutica.

Com a Homeopatia, o corpo é provocado a reagir com vigor, de forma integrada, reorganiza a recuperação e a faz de maneira soberana e naturalmente, tão suave e pronta que chama a atenção de um observador.

Além de curar de forma pronta, suave e definitiva, com o mínimo de gastos para o corpo, deixa como que uma memória da forma de responder em casos semelhantes, compondo assim uma “memória da resposta”.

Espero que todos, algum dia, tenham o prazer de ver esta experiência, muito embora, na verdade, desejo que ninguém adoeça.

terça-feira, 13 de setembro de 2016



DESEQUILÍBRIO DA DINÂMICA VITAL: A DOENÇA DINÂMICA



Continuando a matéria anterior, falaremos sobre como a alteração da dinâmica vital pode gerar um quadro de susceptibilidade a adoecer, o que chamamos de Doença Dinâmica.

Para isso temos que trazer à nossa mente novamente o que é Dinâmica Vital.

A alteração


Vimos que estamos incluídos num universo que muda a todo instante e que nosso sistema orgânico, em decorrência disso, muda constantemente para que nos mantenhamos em equilíbrio, sendo este o perpetuador da vida.

Mas se o Sistema de Vida Vegetativo não responder a contento, o equilíbrio não será suficientemente eficiente para que mantenhamos em integridade à nossa unidade.

Se desequilibrarmos, ou ainda melhor, se não mantivermos nosso equilíbrio na nossa dinâmica vital, homem/universo, a consequência disso será um estado de autoconsumo e desagregação que só acabará com a morte.

Mas estamos vivos.


Mesmo não nos adaptando bem faremos pequenas alterações locais para diminuir a tensão mórbida gerada pelo desequilíbrio vital.

Isto gera nova mudança no binômio homem - universo que obriga a uma nova adaptação e assim por diante.

Este estado complicado de se manter equilibrado às custas de ações adicionais locais, gerando novos desequilíbrios, é o que chamamos de Doença Dinâmica.

E isso se perpetua, o organismo lançando mão de adaptações, que afeta o universo que responde contra isso, levando-nos a ter que readaptarmos, e isso de maneira insatisfatória, o que obriga o corpo a se "calçar" para não cair, gerando tensões que diante da predisposição genética, física e ambiental poderá gerar a tendência a uma ou outra enfermidade.

A esse estado de disposição a enfermar chamamos em Homeopatia de Susceptibilidade Mórbida.



Ela se manisfesta em qualquer parte do corpo como uma vulnerabilidade, seja corpo ou mente, uma vez que o o nosso organismo é um só e não é um fato ser separado em corpo e mente.

O fazemos apenas para fins de estudo.


O que mudou no Sistema de Vida Vegetativo


Algo alterou o Sistema de Vida Vegetativo, ou na Percepção, ou no Processamento ou na Efetuação de uma resposta adequada.

Essa alteração, seja qual for, nos mostrará através de sintomas e sinais na vida cotidiana da pessoa. Gerará uma resposta adaptativa inadequada ao meio em que vivemos, que gera o potencial de desorganizar a enorme cadeia de fatos que leva a existência da nossa vida.

O corpo tem a capacidade de responder de forma a resolver-se na inter-relação com o meio universal. Mas não o faz quando a alteração é no próprio Sistema de Vida Vegetativo.

E é exatamente nesse sistema que a interferência dinâmica mórbida, a Psora, a verdadeira doença da humanidade, afeta e interfere em seu perfeito funcionamento que se notará como uma Susceptibilidade a adoecer.

Raras pessoas conseguem perceber e resolver-se automaticamente nesse nível, mas nós, a enorme maioria, não o conseguimos e daí adoecemos.


É como, por um exemplo, se estivéssemos em um anfiteatro para assistirmos uma orquestra tocar. O barulho da rua interferindo no espetáculo nos obrigaria a prestar mais atenção para discernirmos melhor os sons. Inclinamos para frente, ficamos inquietos e irritados e, logo, a canseira começa tornando a experiência, que era para ser prazerosa, em algo muito desagradável e perturbadora.

O som da orquestra é boa, porém o ruido da rua ao redor, que também é som, interfere na nossa capacidade de a perceber bem.


A Etiologia da Doença Dinâmica, O Miasma


O que realmente altera o sistema de Vida Vegetativo, a ponto dele não conseguir mais responder a contento, é uma interferência adquirida que “atrapalha a Dinâmica Vital em si.

Sua natureza também é de ser Dinâmica, semelhante ao nosso sistema e o universo.

Consegue interferir facilmente com o nosso sistema impedindo a nossa Unidade de se adaptar satisfatoriamente.

Como vimos que o nosso Sistema de Vida Vegetativo não consegue se perceber direito a ponto de se resolver, essa intrusão mórbida vai aos poucos se inteirando com o nosso sistema tornando-o gradualmente mais vulnerável até o ponto que, esgotado, o organismo para.


Caráter da Alteração Miasmática


A alteração miasmática não será algo estático, mas mostra-se dinâmica, mudando de “cara” na medida que as situações em que estamos expostos mudam.

O aparecimento de um novo evento que nos obriga a adaptar vai gerar novas susceptibilidades, novas dificuldade, novas doenças.





O sistema assim inflacionado e pervertido mostra que a desorganização é progressiva e agravante; quando a energia vital do paciente está baixa, ele está enfraquecido, pode ocorrer a desorganização de toda a cascata de eventos que permite existir a vida.

Essa é a doença verdadeira, o início, o porque enfermamos e morremos.

Ela por si mesma, a menos que seja de carácter agudo, tende a não matar mas esgotar a vida até o fim. Todos vimos com frequência as pessoas doentes crônicas, de anos de evolução, chegar a uma situação lamentável, senão que desumana, e esgotados morrerem.

Todos tememos esse fim. 


Vimos, muitas vezes, nossos próprios entes amados acabar dessa maneira, e por ser tão comum a doença dinâmica, achamos normal morrer assim.

O pior de tudo, é acreditar que para morrer precisamos estar doentes. 


Essa é a visão geral das pessoas.

Porém, na verdade,  o sadio morre, mas o enfermo acaba


O primeiro tem uma vida digna e um fim sem sofrimentos (matéria A Saúde, A doença e a Morte), enquanto o segundo é digno de filmes de terror, de programas como O Mundo Cruel.

A alteração Dinâmica é evolutiva e pode se complicar com outras interferências na dinâmica mórbida. 


Há muitos outros detalhes e outros numerosos complicantes, mas para expor aqui o fundamental foi exposto.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

DINÂMICA VITAL


Perguntam-me com frequência sobre a Doença Crônica Dinâmica ou Miasmática.
Então, para ajudar a tornar mais claro este ponto que, aliás, também é um conceito confuso até para médicos, vou fazer uma série de matérias, todas voltadas para a compreensão do assunto.

Então começaremos com a conceituação da Dinâmica Vital. 
Hahnemann nos fala bastante dela, mas no seu tempo a ciência ainda não tinha um vocabulário muito preciso e, ainda, muito do que se falava baseava-se nas filosofias e crenças vigentes.
Muitos médicos se destacam por enunciar detalhes que só mais tarde seria reconhecido como pilares dos estudos médicos.


O HOMEM COMO UMA UNIDADE INEGÁVEL

Todos nós sabemos quem somos o que queremos, o que gostamos ou temos aversão, desejos, etc.. Trabalhamos, nos divertimos, experimentamos a vida, conceituamos o certo e o errado e investigamos o mundo e a matéria que nos envolve.
Estamos numa estreita inter-relação com o universo que nos envolve e em momento nenhum questionamos o fato de sermos uma unidade, isto porque realmente o somos e não a soma de pedaços.

A organização de Uma Unidade

Mas na verdade, somo feitos por pequenas unidades vitais, as Células, que em ambiente apropriado sobreviveriam sem nós.

No nosso corpo ela se especializa, as vezes em detrimento da sua individualidade, se organizam em tecidos e, estes últimos, em Órgãos.
Os Órgãos inter-relacionando-se formam os Sistemas Orgânicos que, por sua vez,  compondo-se formam o nosso corpo humano. 
Há como um sistema executivo de organização que administra a formação de células específicas, outro que o engloba para a formação dos tecidos, e assim sucessivamente até o ultimo que compõe o corpo humano como uma unidade, complexa e altamente responsiva, que lhe possibilita a adaptação ao meio onde vive.

Simplesmente um Exemplo

Assim, por um exemplo, as células especializadas em músculo cardíaco formam o Miocárdio, outras organizadas em tecidos de revestimento vascular formam o Endocárdio. Algumas células, ainda, se especializam a levar impulsos nervosos através do músculo cardíaco. Um sistema de irrigação formado por artérias, que são também células que se organizaram e já são especializadas e correm pelo músculo cardíaco, formando um sistema de irrigação que permite suprir o coração de sangue indispensável à vida.
Assim, o sangue que também são células organizadas como um tecido correm pelos vasos arteriais e venosos.
O conjunto de tudo organizado constitui, a grosso modo, o nosso Sistema Cardio-Circulatório
Todas estas partes resultantes de uma especialização se organizaram para a formação deste sistema orgânico.  


No final, portanto temos o homem formado e pronto. Mesmo que composto por tantas partes e células mostra-se como um SER ÚNICO, UMA UNIDADE
Isso é tão harmonioso que quase nunca lembramos de que somos formados.
Esta unidade tem a característica dos seres vivos: a Irritabilidade que é a capacidade de responder aos estímulos,e que lhe garante a adaptação ao meio.
Para todo estímulo sempre haverá uma resposta.

O SISTEMA DE CONTROLE

Esta unidade está adaptada funcionalmente para viver no meio em que foi criado.
Seu funcionamento é todo automático e contínuo, além de muito preciso.
Um sistema em especial é responsável  por essa automaticidade formidável, O SISTEMA DE VIDA VEGETATIVO.
Ele é formado por todas as organelas que fazem a vida acontecer de forma  automática e integradora no corpo humano.
São muitas estruturas no corpo onde suas partes se encontram, mas é no Tronco Encefálico onde a maior parte delas se encontram. 

É por isso que essa região é tão vital no corpo humano!
Este sistema é capaz de perceber a situação do corpo no universo, processar essa informação e efetuar uma ação reguladora, modificadora do corpo em relação ao meio.
Um exemplo simples: se começarmos o dia com frio e durante o dia esquentar muito não morreremos, adaptamos.
Ele percebe a alteração, processa essa informação e efetua uma resposta para que o sistema continue adaptado ao meio e possa sobreviver e funcionar corretamente.
Portanto ele é provido de um Sistema de Percepção apurado, formado pelo sistema sensitivo, onde até nossa consciência é usada como parte do sistema sensitivo do Sistema de Vida Vegetativo. Há um outro, o de Processamento, que colhe as informações e as processa. 
Além da Percepção e Processamento, há o sistema que Efetua a resposta onde ele converterá as informações provindas da percepção em mudanças físicas. É o Sistema Efetor, parte esta de uma complexidade admirável. 

O UNIVERSO PESSOAL COMO O MEIO ONDE VIVEMOS

O universo pode ser reduzido a um Universo Pessoal, que é a parte do nosso universo do qual fazemos parte e com o que coatamos, coagimos.
Como todo o universo, o nosso universo pessoal muda a todo instante. Não é um lugar estático, mas muito dinâmico. Tudo está constantemente mudando, em todos os seus aspectos. 
Além do que, incluso nele, há toda uma criação de seres vivos em constante atividade que, também, provoca outras tantas alterações que nos envolve. 
Poderíamos classificar tudo que está em nossa volta, mas o que nos interessa é que tudo que  compõe nosso Universo Pessoal não está estático, parado, imutável, mas ao contrário em constante e eterna mudança.

A INTEIRAÇÃO HOMEM / UNIVERSO

Se o Universo não para de se alterar nossos corpos, nós mesmos, também assim o estamos correspondentemente alterando.
E por agirmos sobre o Universo, provocamos nele uma alteração, a nova situação do Universo obriga-nos a adaptar novamente. 
Então, pelo fato do Universo se alterar constantemente, o nosso corpo se vê obrigado a mudar para se adaptar, sem o que, ele desorganiza e morre.
A falta de uma resposta adequada pode "Inflacionar" essa inteiração Homem-Universo levando a sérios problemas na vida daquela unidade vital.

A DINÂMICA VITAL

Portanto, essa inteiração entre nosso organismo e o nosso universo, provoca um estado de eterna adaptação.
Essa adaptação é promovida pelo Sistema de Vida Vegetativo.
Por ser tudo uma dinâmica constante entre nosso organismo e o universo que nos envolve chamou Hahnemann a este fato de DINÂMICA VITAL.
Ela nada mais é que o fato da inteiração eterna do homem com seu universo mutante.
Ela tem que ser equacionada de forma que essa dinâmica tenha como resultado a continuidade da vida. 
 A menor alteração na dinâmica vital de forma que não esteja tão propício à continuidade da vida teremos grandes alterações em nosso sistema vital, senão a desorganização total dele e a consequente cessação da vida.


ATÉ O QUANTO PODEMOS ALTERAR?

Neste ponto cabe a pergunta:
- mas até quanto nossa Dinâmica Vital pode tolerar uma alteração antes dele desorganizar a ponto da morte ser inevitável?
Digo apenas, que é como um lápis equilibrado sobre sua base, na situação vertical. Uma minúscula força aplicada ao lápis gerará um potencial de queda muito grande. 
Assim, se deixarmos de responder por pouco que seja o risco desproporcionadamente aumenta  de se desorganizar e morrer. 
É uma característica dos equilíbrios dinâmicos não serem isolados, mas interagem com toda a realidade de onde está inserido. 
O lado que minimiza um pouco este fato  é a realidade de sermos seres VIVOS, como veremos um pouco mais adiante.

domingo, 14 de agosto de 2016



POR UMA MEDICINA MAIS HUMANA




O tema foi exaustivamente discutido e ainda se discute muito.



Como humanizar a medicina?

São tantas técnicas terapêuticas, tantos recursos médicos, tantas informações, que a medicina se focou na doença, no sistema orgânico ou no órgão físico que tornou o ato médico em uma ação extremamente técnica, fria e calculista.

Na era dos grandes avanços os nossos pacientes estão esquecidos debaixo da técnica médica, e quando se fala em humanizar chamamos mais um técnico, o psicólogo.

É muito mais importante, muitas vezes, a patologia do que a pessoa que a possui.

A origem do problema

Na antiguidade havia duas escolas do pensamento médico que se digladiavam e se representavam sob dois aforismos:

Não há doenças, há doentes

Há doentes, há doenças

Depois de muito tempo, quando já não se falava mais no assunto, quando a discussão não chamava mais a atenção, nos vimos diante do dilema na prática. Dai começou a se buscar uma solução para nosso tempo: o de Humanizar a Medicina. 

No mundo atual, tudo é organizacional, tudo tem que gerar lucro, tudo é dispendioso e o dinheiro nunca é suficiente para que lancemos mão de todas as tecnologias médicas de diagnose ou tratamento.

Muitos conceitos, muitas filosofias, muitos blablablás, mas parece que é difícil entender o que se procura, o que se cobra como humano na medicina. 

Parece algo vago, mas temos certeza que realmente falta algo. 

O médico não é a solução das angústias existenciais, nem sociais, mas com certeza o médico é responsável pela humanização da prática médica, como profissional atuante e como líder de equipe de profissionais da área médica.

Mas o que falta realmente? 

O que se espera e se deseja enfim?

Certa vez uma senhora desesperada procura um monge, por volta de 1200 na China. Chorava e implorava para que ele fizesse alguma coisa porque seu filho estava doente e os médicos chineses prognosticaram a morte do bebê. 

Ele a olhou uns instantes nos olhos e lhe disse para que procurasse uma casa no vilarejo onde jamais tivessem perdido um ente querido. Quando encontrasse pedisse alguns grãos de arroz. Isto salvaria seu filho que estava doente de morte.

Passou o dia e a noite e de madrugada ela aparece gritando, chamando aos gritos o monge no mosteiro, falando injúrias, dizendo que ele a enganara.

Como posso tê-la enganado? - pergunta o monge a mulher.

Você me falou que um pouco de arroz de uma família que não tivesse conhecido a morte em sua família salvaria meu filhinho… responde agitada e chorando.

E você não conseguiu o arroz? - volta a lhe perguntar. 

Não há nenhuma família que não perdeu alguém querido para me fornecer o arroz. Procurei na aldeia toda e imediações, ninguém, ninguém … - chora 

Se os médicos nada podem fazer, se ninguém pode fazer mais nada, como poderia eu fazer algo? O que lhe indiquei foi a realidade. Para você ver que certos males exitem para todos sem exceção, e também para a senhora. Se algo poderia ser feito os médicos já teriam feito com seu filho. O mal as vezes vêm, e para todos…

Então me ajude…- fala ainda chorando e estende suas mãos para o monge, entendendo o caráter universal do sofrimento humano. Não teria entendido de outra maneira.

Há versões parecidas nos dias de hoje.

Elas doem mas são reais, e promessas, juras ou o quer que seja não mudarão a verdade. 

No começo de carreira, quando eu ainda dava plantão em um pronto socorro, deu entrada um jovem que sofrera um acidente de motocicleta. 

Naquele tempo não era obrigatório o uso de capacete e o moço não o usava no evento fatídico.

Também as motocicletas eram rudimentares e na sua maioria inseguras.

Quando vou examinar o acidentado vejo que ele está sem vida e que metade de seu cérebro faltava, o que pude verificar por um fenda longa em “V” de um lado da cabeça.

Findo o exame, estava por encaminhá-lo para o necrotério e notei o porte atlético do jovem, sua vestimenta diferenciada, sua aparência de bom trato e pensei que uma família organizada e querida estava por trás deste moço. O sofrimento da família ante a perda seria muito cruel.

Então recompus da maneira que pude a cabeça dele, fechei em pontos não visíveis. Fiz uma rotação de tecido para cobrir a parte que faltava como havia aprendido na Cirurgia Plástica. 

A cabeça parecia normal, embora alguns hematomas marcassem seu rosto, mas os sinais da violência do acidente havia sido consideravelmente amenizado.

Menos mal, minha intensão era de realmente diminuir o impacto nos parentes da violência que o moço sofrera.

Realmente nos doe muito quando alguém querido é violentamente tirado de nós. 

As marcas da violência, usando nossa imaginação, nos tortura para o resto da vida. 

Pouco mais tarde, começaram a aparecer os parentes, a começar pelos pais, aflitos como se era de esperar. Tive que dar apoio a mãe hipertensa, e dar a notícia aos pouquinhos para prepará-los ao pior: 
- O acidente foi grave... Ele esta muito mal.

Tempo depois alerto que ele estava sem o capacete. 

Mais um pouco completo: 

- infelizmente…  

Tudo estava se aquietando quando um primo do acidentado entrou gritando e grosseiramente me apontava me cobrando seguidas vezes:

Você fez tudo o que podia? você fez tudo o que podia?

Infelizmente não foi o suficiente - o que poderia fazer pelo jovem que entrou morto sem metade do seu cérebro senão que ajudar a diminuir um pouquinho a dor dos que o amavam, tanto que o primo achou que não tinha sido tão violento o acidente.

Senti a violência da cobrança e pensei, pela primeira vez depois de formado, o que as pessoas esperavam de mim como médico.

Foi a primeira aula prática da parte de minha formação do médico como pessoa.

Um mês, mais o menos, depois deste plantão, no meio da tarde, me chamam porque havia umas pessoas que queriam me ver. 

Vou até a sala de espera e vi o casal, os pais do acidentado, com uma aparência mais serena, acompanhado de alguns familiares, inclusive o primo. 

Assim que entro a mãe vem logo em minha direção e me abraça forte e me agradece pelo carinho que os atendi e pelo que fiz. 

Fico em dúvida do que ela se referia e coloco:

- Desculpe-me senhora, mas este é meu trabalho, não fiz nada além do devia.

O pai me abraça também e começa a me contar:

- Meu sobrinho, que me desculpo pela grosseria dele, ficou indignado com a morte do primo e resolveu levantar o que aconteceu com o atendimento que o senhor deu a ele. Foi investigar desde como aconteceu o acidente até o tratamento que recebera aqui no pronto socorro. Foi por isso que nós soubemos do gesto do senhor de tentar minimizar o impacto do acidente em nós. É por isso que estamos hoje aqui, estamos melhores e gostaríamos de lhe agradecer a atenção. De fato se víssemos o estado dele sofreríamos muito mais. Imaginamos hoje mas não vimos. Se não fosse pelo sobrinho sua intensão teria sido perfeita.

Foram os melhores abraços que tive naqueles dias difíceis.

Dura realidade e são para todos! 


A ESFERA DO ATENDIMENTO

Durante um tratamento especializado o médico lança mão de técnicas muitas vezes muito complexas. Lida com muitas informações, e está voltado para sua atividade objetivamente. 

Os familiares estão em outro plano de percepção: o medo da perda, a compaixão pelo sofrimento, a angústia da espera, etc..

As vezes o encontro dessas pessoas com um nível de emoção diferente choca. 

Ambos os lados estão aflitos, do lado dos familiares que sofrem e do médico que não pode errar em nada, que também espera um bom resultado e que também tem uma expectativa de que o corpo reaja favoravelmente. 

O encontro traz visões díspares da mesma coisa, o que leva ao confronto muito as vezes, e daí o serviço médico aparentemente fica frio.

Do lado médico, há também o sofrimento compassivo pelo mal alheio. 

Também comovemos pela dor das pessoas. 

Mas fomos educados a superar porque nossa compaixão deve ser seguida por uma ação médica salvadora. 

Para que isso ocorra certas emoções devem ser evitadas para não atrapalhar, mas não que elas não existam.

Não somos frios como falam. Sofremos com as perdas também, nos chateados e também desejamos o melhor para os nossos pacientes. 

Uma senhora já velhinha vinha com limitações e alguns desajustes quando precisou ser internada. 

O caso evoluiu mal, foi transferida para uma UTI onde veio a falecer.

Sua filha inconformada me dizia que o tratamento tinha sido “uma frieza só”.

Conversando depois, ela me afirma que o que a marcou, a ponto de a atormentar até a noite todos os dias, era que a mãe lhe reclamava que tinha dor devido a cama do hospital.

Ela reclamou várias vezes e nada fizeram.

Na casa dela a mãe havia se acostumado com as adaptações que fizeram na cama onde dormia, no hospital não há tempo nem condições de adaptar muita coisa. 

Não temo muitas variações para uma individualização do material hospitalar, e a atenção e o tempo precioso são dedicados ao tratamento.

Será que bastaria ter mudado o leito? 

MEDICINA SETORIZADA

No nível de atenção primária à saúde, onde o contato com os cidadãos deveria ser intenso e profundo, é que o atendimento falha. No hospital não há muito o que fazer porque lá as coisas são urgentes.

Ou vive-se no vício dos centros de saúde, ou postinho, ou vive o ambiente do pronto socorro hospitalar com suas salas de esperas cheias de gente esperando um atendimento, como o faminto a espreita de migalhas de pão. 

É ai que vejo onde nasce o sentimento de frieza, de que não se importam com que o outro reclama, não se importam com a sofrimento alheio, um verdadeiro afastamento do poder público da saúde. Mais fácil é mandar as pessoas para o hospital onde muitas vezes o indivíduo é exposto a riscos desnecessários.

Num “postinho”, geralmente cheio, um profissional não médico geralmente gerencia o atendimento. É dado ao médico atender um número de pacientes acima da capacidade de se promover saúde. É um atendimento muito superficial num ambiente sem condições médicas para o atendimento.  

Na maioria das vezes, nem o médico se encontra lá tamanho o descaso com o padrão de atendimento, o que afasta o médico. 

A infra estrutura esta muito carente e o poder público busca soluções simplistas.

Vai se atendendo e pronto. 
Há programas de saúde, mas não funcionam porque a estrutura do serviço médico esta desvirtuada, longe da sua verdadeira função.

Onde um médico generalista, ou de família, deveria estar atendendo um número limitado de pacientes, num ato profissional compatível com a promoção e manutenção da saúde, há um número político, de pessoas a ser atendidas, dirigidas e orientados por profissionais não médicos, porque eles, de certo, não aceitariam esta condição. 

Chegou a um ponto e certos lugares que nem os tais “médicos cubanos” deram conta e denunciaram a total falta de condições para trabalhar. 

Me envergonho quando vejo em campanhas políticas um candidato se gabar que foram feitas tantas consultas na gestão dele, ou que construíram tantos hospitais enquanto a rede de atenção primária à saúde, que é onde a Medicina vai ser exercida no seu mais alto nível, está doente morrendo e os pacientes e o próprio sintema médico estão vivendo de piedade e desespero.

Há lugares que são melhores, mas estão longe da base de atendimento que justifique uma ação de Promoção e Manutenção da Saúde. 

Certa vez me ligaram pedindo para que fosse atuar num posto de saúde da prefeitura que estava montado numa hipotética estrutura ideal.

Fiquei entusiasmado, será que vai acontecer a mudança tão necessária?

Pedi que a pessoa me explicasse. 

Falou-me do espaço físico, da capacidade de atendimento, mas não conseguia ter informações que me orientassem o que fazem lá.

Pergunto como atuo e disse-me que deveria atuar como generalista, e que de fato o sou, tantas horas semanais, mas só que tinha que atender de sábado e, a cada certo tempo, aos domingos. 

Sabia que a população da periferia sempre cobrou o serviço público para montarem um pronto socorro 24 horas. 

Então pergunto:

- O quanto vou ganhar é o mesmo do Clínico geral? - maliciosamente pergunto para obter informação que precisava para ver “as intenções ocultas”. 

- Não, o clínico vai ganhar só um pouquinho a mais doutor- me responde docemente. 

- E o Cardiologista do posto ganha o mesmo que o clínico? torno a insistir na minha malícia.

Não também, ganha mais. Lógico, né doutor, porque ele é um especialista. Todos os especialistas do posto ganham conforme suas especialidades - me responde sem titubear.

Então para mim não serve , obrigado - concluo

Podemos então lhe pagar o que ganha um Clínico Geral …

Desculpe-me, meu caro, mas o problema é outro.

Passou um tempo e me retorna dizendo que agora me pagariam o que pagam para um cardiologista no posto de saúde.

Nego e digo que ele está muito desinformado para a função que exerce e que pense melhor e descubra o porque eu recuso.

Aceitaria se fosse para firmar um sistema médico de Atenção Primária à Saúde, até com os fins de ajudar a tornar o sistema viável.

O fato é que o lugar de qualquer especialista não é nesse nível de atenção.

Neste nível de atuação médica o médico Generalista é o médico indicado. Ele liderará todo o serviço e deverá se dedicar totalmente à ele. 

É neste nível de atuação onde se resolve por volta de noventa por cento dos problemas em saúde da população 

Era preciso que ele equipasse o tal posto para a execução da Atenção Primária à Saúde, tanto fisicamente como parte de um Sistema Médico realmente.


A QUALIDADE DO ATENDIMENTO


O problema começa com a colocação dos profissionais da saúde em postos errados.

Depois vem a preocupação com as exigências de politicagens locais que em nada tem a ver com a Medicina e sua prática. 

Os médicos são mal pagos, são chefiados por profissionais não médicos que não tem cultura médica o suficiente para entender a situação complexa das necessidades humanas de uma população. São muitas vezes teóricos, as vezes terroristas num bom sentido, mas a intenção medica mesma é que não se pensa. 

Um colega meu largou tudo e resolveu atender num posto de saúde familiar, serviço que conhecemos muito bem. Este serviço tinha apoio do governo federal.

Depois de um mês exatamente, voltou para Campinas e reabriu seu consultório.

Disse-me que não havia condições de me descrever o serviço, tamanho do descalabro que encontrou. Ainda os desmandos de políticos que impunham “favores” a apadrinhados o que não poderia ser negado. Sei que é assim mesmo, mas esta foi a primeira experiência dele. 

No nível de Atenção Primária à Saúde é onde o paciente entra em uma inteiração com o médico que possibilita descobrir suas necessidades reais na área onde vive, o que se deve corrigir para se educar em saúde. Também é neste nível de atenção à saúde onde se passa a saber como se deve agir, e por fim compreender aquela pessoa dentro de seu universo, além é lógico, do estudo físico em si. 

Ele será acompanhado e terá um grau de individualização no atendimento próprio deste nível de atenção. 

Um especialista, mesmo que queira atuar neste nível de atenção à saúde, terá dificuldade para executar a medicina neste nível de atuação porque ele é do nível de Atenção Terciário a Saúde, onde desempenha magnificamente sua função. A profundidade do seu conhecimento o impede de avaliar e conhecer o que realmente tem que ser tratado no nível de Atenção Primária à Saúde.

Então temos o agravante de ter que atender uma multidão como se fossem números, numa atuação desviada para particularidades, onde as informações individuais são despresadas. 

Um atendimento rápido é impessoal e formatado.

Outro ponto, a estrutura administrativa peca em diversos níveis cobrando-se do médico não sua função, mas que se torne tal qual “operário da saúde”, sendo que sua produção seja a quantidade de indivíduos, para um ato político, e não um ato médico de alta qualidade onde o indivíduo saudável seja a meta.

Um pequeno exemplo:

Certa vez fui a um posto de saúde levar uma funcionária de uma uma vizinha que havia se ferido e necessitava cuidados. 

Enquanto eu a esperava ser atendida, vi uma senhora entrar as pressas e mandarem-na a consulta do especialista, um cardiologista porque estava com palpitações. 

Estava naturalmente assustada e pálida pelo estresses que os sintomas molestos causavam. 

Voltou e sentou-se do meu lado enquanto a acompanhante brigava para marcar os exames que só seriam feito muito depois de um mês. 

Ouvi coisa assim : “ e como ela vai ficar sem medicação, não dá para esperar, ela está mal, … é assim mesmo, tem que esperar”.

Olho e sorrio para a doente ao meu lado, e ela com cara de assustada sorri: 

- Esta mal? - pergunto olhando-a interessado.

- To com o coração dando cambalhotas, parece que vou morrer - responde-me com a mão no peito

- É mesmo? E a senhora suspira muito? - depois de vê-la suspirar umas vezes é que pergunto.

- Muito, tenho que puxar o ar porque ele para na garganta e da voltinha e não entra. - responde prontamente

- E abre muito a boca, assim como se tivesse com “quebrante”? 

- Direto e reto, chego a escorrer lágrima - e sorri

Bem, já temos aqui alguma coisa como um sofrimento emocional que a incomoda e somatiza. 

É comum nesses quadros tensionais aparecer uma hiperacidez dando origem a uma esofagite a ponto de irritar o nervo Vago que enerva estômago e também o coração, o que é de interesse no caso, dando sintomas. 

Então volto a perguntar:

- E a senhora não tem acidez? 

- Tenho, fica queimando aqui óh - me mostra exatamente onde termina o esôfago - da agastura e "supito" muito (regurgitação)

Como puxei assunto ela continuou me contando as pequenas tragédias com os filhos que a estavam angustiando muito, certas mágoas recentes que lhe atormentavam a noite. 

A vida fora sempre difícil. 

O coitado do cardiologista não poderia fechar o diagnóstico em tão pouco tempo. 

Os exames, depois de muita espera, viriam normais provavelmente. 

O que a senhora precisava não eram exames, mas um tratamento bem elegido. Ante ao diagnóstico, ver que tipo de apoio poderia ser dado junto a equipe do posto.


A SOLUÇÃO EXISTE  


Bem, toquei no problema bem superficialmente, mas da para ver que o problema não são só médicos ou a medicina, mas de sistema médico nacional. 

Em nenhum país se terá uma medicina bem aplicada se não obedecer os níveis de atenção à saúde onde é possível gastar para entender o paciente que tem uma doença, um distúrbio, uma necessidade. 

O risco é o que está acontecendo, tornar o exercício médico uma adaptação de técnicas especializadas, que além de dispendiosas não resolve os problemas de saúde de uma pessoa, muito menos da população.

O que se quer é essa atenção, esse cuidado. 

A atenção médica bem alocada em níveis é o suficiente para que um doente se sinta atendido adequadamente e suas necessidades atendidas. 

Não há sentindo inverter o atendimento em nome da setorização da medicina tanto como um Generalista ir primeiro atender o paciente num serviço especializado.

A seriedade para com as necessidades reais da população é tão pouca que os serviços que deveriam estar sendo incrementados é apenas o emprego temporário, de passagem, de recém formados, muitas vezes despreparados para este ato médico de grande complexidade, que exige um boa bagagem de cultura médica e social.

A solução do problema da humanização da Medicina começa com a mudança do sistema de saúde para que se possa otimizar o execício médico, que naturalmente já é humano.

Em ritmo de "produção política” nunca será humanizada, nem objetiva e nem assertiva à saúde da população. 

As necessidades médicas nunca começam numa tragédia, com exceção é claro dos acidentes.

Se não atendidas às necessidades em saúde, elas crescerão e o sistema nunca conseguirá pagar por ela. 

O emprego da medicina como meio de prover as necessidades humanas não devem ser levados para outro âmbito que não seja o médico. 

Há vários países onde a Medicina é bem aplicada.

Podemos desenvolver o nosso sistema baseado nas necessidades básicas atendidas através dos níveis de atenção à saúde.

O respeito do país e de seus dirigentes se mede também por aí.

Se aplicarmos a Medicina para o bem das pessoas então não teremos de dispender de tempo para filosofar sobre a HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE.