segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O MEDICAMENTO INDIVIDUALIZADO


Em um determinado dia, apareceu uma senhora que trazia o filho para uma consulta.
O menino estava agitado e, quando parado, dava pulinhos na cadeira. De repente, ficava agitado e saía da cadeira mexendo em tudo e não parando em nada, até que a mãe o pôs na cadeira de novo, quando começaram os pulinhos novamente. 

Achei muito estranho tudo aquilo e começamos a tirar a história da doença. A mãe tinha outro filho, foi a um homeopata que lhe prescreveu um medicamento que o acalmou, e ele passou a dormir bem.
Como o meu “clientezinho” não dormia bem, ela resolveu economizar uma consulta, e lhe deu “aquele remédio calmante” que o outro médico havia dado ao irmão.
Como não funcionou, sob a orientação de uma vizinha que tomava medicamentos homeopáticos prescritos repetidos, passou a repetir o medicamento, que foi produzindo aquele quadro que eu observava.
Tive vontade de rir, por me parecer cômica a ingenuidade da mãe, deixando o “Pulinho” daquele jeito.
Em outras palavras: na repetição de um medicamento, os sintomas vão aparecendo, e naquele caso esses eram os sintomas que nos mostrava[i].
Orientei-a, mostrei a necessidade individualizar o medicamento na Homeopatia para ele agir corretamente, além da necessidade de dá-lo adequadamente para que funcione bem e com segurança. Também disse a ela que não tínhamos calmantes ou coisas assim, que tratávamos aquilo que levava a criança a não se adaptar, a enfermar.
Em resumo: o que é bom para um caso certamente não o será outra pessoa, há a necessidade de darmos o medicamento que cada um precisa para se curar através de um tratamento homeopático funcional. 

Todo medicamento homeopático deve ser individualizado, o que somente conseguimos com uma consulta médica.
Mais uma vez: não há magia, truques ou receitinhas secretas, há, outrossim, um procedimento eficaz para tratar os males das pessoas.
Quando estudamos um caso de uma pessoa doente, chegamos a um medicamento que vai tratar o mal daquela pessoa, vai transformar uma pessoa doente em outra sadia, com a remoção de toda a sua patologia dinâmica.
Pode ser que coincida algum medicamento prescrito para pessoas diferentes, por serem os medicamentos tão extensos, mas não necessariamente um medicamento que foi indicado para uma pessoa pode ser usado por outra.





[i] Sintomas Patogenéticos, aqueles produzidos pela repetição do medicamento homeopático.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

ENFERMIDADES CRÔNICAS E AGUDAS


As enfermidades dinâmicas são, para a Homeopatia, entidades nosológicas claras e distintas entre si.
Comportam-se como doenças agudas ou crônicas: a que evolui para cura ou morte num intervalo de tempo curto são as agudas; e as crônicas são aquelas que se arrastam, consumindo o indivíduo aos poucos até que, praticamente, o acabem. Elas acabam com a vida do enfermo antes que este possa simplesmente morrer naturalmente (sadio).
As duas são causadas por alteração no dinamismo vital, por agentes causadores de doenças diferentes.
As doenças crônicas são provocadas pela doença dinâmica Psora, Sífilis e Sicose. A esse agente causador do desequilíbrio dinâmico chamamos de Miasma[i] crônico.
Já a doença aguda é causada por um Miasma agudo.
Se duas pessoas tiverem a mesma doença aguda farão, praticamente, o mesmo quadro sintomático, ou muito semelhante na sua manifestação.

A DOENÇA AGUDA

Na doença verdadeiramente aguda há uma forma clara de agir. É a doença que causa um mal agudo, de forma vigorosa, com sintomas e sinais exuberantes, e tende à morte ou à cura espontaneamente.  
Geralmente acaba por produzir sintomas e sinais muito semelhantes em indivíduos enfermos distintos. Produzem um quadro muito semelhante, mais ou menos exuberante de um indivíduo para outro, mas um mesmo quadro clinico.
Dependendo de como afetam a população geral, podem atingir a grande maioria, metade da população ou menos que a metade, e daí recebem nomes diferentes.
Lá no começo do livro, escrevi um episódio assim: “Houve há alguns anos atrás uma epidemia de gripe. O quadro era claro, e as pessoas caíam enfermas dessa virose e, com mais ou menos tempo, se curavam sem problemas”. Esta era uma doença aguda de verdade, este é um bom exemplo.
Porém, uma doença aguda pode fazer com que um indivíduo, previamente enfermo na sua dinâmica vital, desencadeie as manifestações de uma doença crônica. É como se a doença aguda despertasse a doença crônica que jazia latente em seu sistema, apenas esperando o momento em que pudesse agir.
 Vemos isto mais ou menos assim no consultório:
- Desde que peguei tal gripe, passei a apresentar tal e tal sintoma, e quando fui ao médico este me diagnosticou como tal doença crônica. Eu nunca tinha tido nada até então.
Parece que o impacto causado pela doença aguda sobre um indivíduo psórico, que apresentava a Psora em latência, coloca em atividade a doença dinâmica crônica, e a pessoa começa, então, a desenvolver toda sua morbidade latente.

A DOENÇA CRÔNICA


A doença crônica é bem diferente de uma aguda que evolui para cura ou morte.
Ela tende a não se curar, é de característica evolutiva, se complica no tempo e compromete gradualmente a saúde do indivíduo, mas só o mata por complicações ou porque este literalmente “se acaba”, após ser tão comprometido e espoliado.
As doenças crônicas, tais como as conhecemos, nascem porque uma pessoa está suscetível a adoecer.  
Essa suscetibilidade é decorrente de uma alteração prévia do seu organismo como um todo, o que lhe cria um terreno mórbido, isto é, uma predisposição a desenvolver algumas patologias, dependendo para isso da sua genética e do meio em que vive.
Nem sempre podemos alterar o meio, nem, tampouco, a genética. Em vista disto, podemos mudar a suscetibilidade para que a pessoa não adoeça.
A doença crônica é adquirida e pode se mostrar ainda simples como o campo que chamamos de Psora, ou estar já complicada com outros fatores mórbidos. Ainda pior se muito evoluída, quando aparecem as doenças em que o corpo não pode fazer uma identificação correta entre o que é normal e precisa ser mantido, e o que é alterado precisa ser eliminado.
Uma vez adquirida essa doença crônica, ela vai mudar o sistema e nos predispor a adoecer, e isso vai mudando nossa forma de ser, nos limitando, nos fazendo sofrer.
Aos poucos, vamos acabando, diminuindo, até que, através de um acidente mórbido, não tendo mais condição de nos manter vivos, morremos.
Quando um homeopata estuda e trata um paciente, está tentando aniquilar essa disposição de adoecer, que se chama Miasma. É porque ela está no corpo e o desorganiza que tantas doenças vão aparecer como enfermidades. Por exemplo: hipertensão, diabetes, lúpus, os tantos transtornos articulares, digestivos, as neuroses, muitos dos chamados desvios sociais, fobias, etc.
Se tivermos que estudar um paciente, procuraremos, assim, estudar como o indivíduo se alterou para ter a patologia que tem, e como poderemos tratá-lo.
É a atuação típica de um médico clínico, porém com uma arma terapêutica muito eficaz para esse fim, que é a Homeopatia.

AGUDIZAÇÃO DE UMA DOENÇA CRÔNICA

O que causa confusão é o fato de a doença crônica muitas vezes produzir quadros de agudização, que não são provocados pelo Miasma agudo, e, portanto, não são os mesmos para mais ninguém. Esta agudização de um miasma crônico é que gera confusão, aparentando ser uma doença aguda.
É mais um acidente mórbido, uma pequena complicação no curso de uma doença crônica do que uma doença aguda.
Houve há alguns anos atrás uma epidemia de gripe. O quadro era claro, e as pessoas caíam enfermas dessa virose e, com mais ou menos tempo, se curavam sem problemas.
No meio dos que haviam pegado a virose, apareceram alguns que complicaram com amigdalite purulenta aguda, otite média purulenta aguda e até broncopneumonia.
Esses eram os enfermos crônicos que, diante de uma virose, uma enfermidade miasmática aguda, complicaram, fazendo outra doença, aqui bacteriana, uma complicação, devido à suscetibilidade a enfermar motivada pela Doença Crônica Dinâmica. São os quadros que só o individuo enfermo apresenta, e só ele,  não mostrando ter um gênio epidêmico.
Também há outros tantos que fazem um quadro de doença aguda, como resultado da “agudização” de uma doença crônica dinâmica, que saiu da latência ou se manifestou espontaneamente pelo dinamismo mórbido. Nesses casos, se houver um quadro semelhante, será só por uma coincidência.
São comuns, por exemplo, as complicações do Sarampo, que levam até a morte. Isso porque se uma criança não está bem na sua dinâmica vital, ela apresenta uma suscetibilidade a enfermar; e se adquire uma doença viral intensa que a consome, cria condição para desenvolver outra doença que pode lhe ser fatal.

Toda vez que entra um paciente no meu consultório com uma doença aguda, tenho de diagnosticar em qual situação se encontra, se é portador de uma enfermidade aguda pura, se apresenta uma agudização de uma doença crônica ou se é complicação provocada durante a evolução de uma doença aguda em um indivíduo previamente doente (doença crônica).
E para reforçar o conceito: digo doença crônica me referindo à Doença Dinâmica, que afeta o todo e o torna suscetível a adoecer.
Aparentemente, podemos não mostrar essa doença, a não ser para o médico através de uma consulta.
É por isso que ouvimos quando alguém se complica com uma doença aguda:
- Mas fulano era tão saudável, nunca teve nada, e agora esta assim tão ruim, não dá para entender...



[i]                       Miasma tem como tradução veneno ou vírus.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

OS SINTOMAS E SINAIS COMO  FERRAMENTAS INDISPENSÁVEIS PARA A MEDICINA



      Mesmo as pequenas alterações não deixam de ser grandes mudanças no nosso sistema orgânico e no universo que nos envolve.

      Nunca realmente apenas sentimos alguma coisa, muita coisa muda para ser percebido  como um “sintominha”.

      Nossa saúde é a resultante de uma dinâmica de vida fantástica que nos é impossível de compreender por completo devido a imensa complexidade.

      Quando, no passado,  passamos a estudar mais conscienciosamente o corpo humano e suas funções alguém dividiu nossa realidade orgânica única em cabeça e corpo, tendo lá alguma influência da religião.

      Então passou a ser comum que a nossa realidade fosse dividida em coisas da mente e coisas do corpo. Esse conceito é arraigado na cultura ocidental.

      Em decorrência disso, grosseiramente, foi dividido nossa realidade em mental e físico, mas existe essa divisão?

      Muitos que afirmam não existir criam sistemas tão fantásticos que o melhor é dividir e vice versa.
      Temos que nos enquadrar em algum conceito em voga no nosso tempo, senão ou o fato é ignorado como se não existisse, ou causará um mal estar desorganizador.

O PRIMEIRO PRINCÍPIO


      Somos seres vivos.

      Só isto basta para podermos começar a nos entender.

      Ver a realidade mais simples que podemos ver com nossos sentidos e funções: somos seres que ainda estamos vivos.

      Não precisamos de mais nada a verificar essa realidade e muito menos conceitos que apenas complicariam nossa percepção pura e simples.

      E como seres vivos vivemos em algum lugar que é o bem aqui e agora.

      Magnífica conclusão.

      Disso incorre observarmos que reagimos assim e assim, que movemos braços pernas e dirigimos nosso olhar para cá e para lá, etc.

      Então como poderemos nos conhecer?

      Aí o cerne da questão, já nos conhecemos, mas não temos na nossa racionalidade nada que pudéssemos nos espelhar como membros de alguma coisa, do mundo  e pensamentos, então criamos a observação, e nomeamos partes. Isso sem dúvida ajuda o estudo e compreensão daquilo como somos como organismos viventes.

      Não que sejam em si descobertas, mas recriamos, à nossa capacidade, a nossa realidade e a que nos envolve, nomeando e criando modelos para explicar-lhes a realidade que conseguimos perceber como tal.

      Daí surge incessantemente dicotomias, divisões, e realidades únicas são geradoras de inúmeras realidades conceituais que nos induzem achar que nada tem em si relação, e são, na realidade,  apenas manifestações detalhadas de uma única observação. 

      Daí estudamos coisas que dizem respeito à mente, ao cérebro, aos órgãos e sistemas, e assim por diante.

      Voltando aos nossos sintomas, eles refletem uma unidade conceitual, mas na realidade dos fatos, na atualidade deles, é apenas algum ruído de um movimento universal que nos envolve.

      Mas por que tudo isso é interessante?

      Mas por que esse discurso com ares existencialistas?

      Porque simplesmente temos que ter em mente que o particular é manifestação do movimento da unidade, e quando falamos em medicina, o objeto de estudo tem que ser o indivíduo e não simplesmente sintomas e doenças.

O OBJETIVO DOS SINTOMAS E SINAIS


      Parece não mostrar diferença, de ser apenas uma afirmação um tanto verborréico, mas é assim, entendendo que os sintomas podem ganhar um novo significado e a resultante disso, após treino sério e constante, será a capacidade de entender o som das doenças, a visão da alteração a que chamamos doença.

      Não que os estudos setorizados não sejam produtivos e úteis, mas tem na sua dimensão uma utilidade focal que nos ajuda como o foco de luz de uma lanterna sobre um objeto. 

      Muitos dos profissionais clínicos famosos, que por sua prática tinham hipóteses diagnósticas acuradíssimas eram tido como médiuns videntes ou intuitivos e nunca um trabalho árduo de educação, de conseguir tornar claro a todos a percepção pessoal daquilo a que chamamos doença.

      Muitas vezes prognosticaram doenças mesmo antes delas se manifestarem como disfunções, e só baseado na forma de entender e observar o objeto de estudo, o indivíduo  enfermo.
      Como então fazer para se integrar com a observação Clínica?
      Sem dúvida é uma tarefa difícil e passível de ser treinada através do estudo sistematizado, utilizando a indução e dedução.

A INFORMAÇÃO DO PACIENTE

      A melhor ferramenta que tem um médico, principalmente o médico homeopata, são as informações do paciente.
    Os sintomas e sinais do paciente nos é de uma riqueza ímpar, porque nos mostram como a doença natural modificou seu estado de saúde.
     É só através deles que podemos fazer uma ideia, através de sua ação patógena, da face da doença em ação, como age e o que provoca.  
      Só podemos mesmo entender o que tem que ser tratado através dos sintomas e sinais que denunciam como a doença alterou o indivíduo sadio.
     Apenas através das informações sobre o paciente e sua doença é que o homeopata pode perceber a dinâmica da enfermidade que está consumindo a pessoa e diminuindo seu padrão de vida.
     A doença dinâmica não se mostra de outra forma senão através dos sintomas e sinais que ela gera ao se alterar.
   E é através dessas informações que podemos chegar a um diagnóstico patológico do corpo ou da alteração do dinamismo de vida.
    É só assim que poderemos conhecer a Doença Dinâmica, que altera o Dinamismo Vital. 

      Cabe, portanto, ao paciente numa consulta médica, o trabalho de informar com exatidão para que junto com o médico possam atingir o objetivo que é promover a saúde integral do indivíduo.