quinta-feira, 21 de maio de 2015

O MÉDICO E A MEDICINA


Há séculos, a humanidade vem lutando para dominar a natureza adversa, tentando eliminar a doença, o sofrimento e a morte.
Muito foi feito nesse campo, e os muitos séculos que se passaram foram o laboratório de experimentações, que continuam hoje e continuarão no futuro.
A Medicina não é uma ciência em si, mas empresta das diversas cadeiras do estudo científico conhecimentos para serem empregados na atividade médica, que estuda e entende o doente e a doença, desenvolve técnicas terapêuticas e diagnósticas, trata e remedia as doenças.
Assim, um médico é um profissional que foi educado no curso de Medicina até chegar a ter um conteúdo de conhecimentos que o torna capaz de trabalhar, tendo de continuar estudando e buscando informações necessárias à sua prática.
Esse conteúdo compõe-se, também, de conhecimentos produzidos ao longo do tempo, na prática cotidiana, usando-se para isso a técnica científica de estudo, o empirismo científico e, às vezes, até o empirismo puro.
Portanto, as informações médico-acadêmicas são extensas e subdivididas para estudos, mas compõem todo um corpo de conhecimento rigidamente organizado e definido, dinâmico e cansativamente aferido.
Na atualidade, a Medicina é contaminada pela exaltação contemporânea da eletrônica, da química, da atomística, e também, infelizmente, do consumo e do lucro.
Quem direciona os estudos e a aplicação do conhecimento médico em cada era são a necessidade real e os anseios daqueles que desfrutam da atuação médica.
Querendo ou não alguns, a Medicina é patrimônio humano, e assim tem de se manter a bem de todos os humanos. E deve ter como coparticipante na condução de seus caminhos a população.
Certa vez, quando ía para meu plantão em uma cidade vizinha, de ônibus, uma pessoa ao meu lado se encorajou e perguntou:
- Vocês realmente abrem cadáver na faculdade?   
Há um “que” fantasioso sob este aspecto do ensino médico. Depois de tantos anos na profissão, já não sei mais como é essa visão... Essa pessoa, como tantas outras, também compartilhava dessa curiosidade bizarra.
- Nós estudamos anatomia em um cadáver ou órgãos de um cadáver. É a forma mais fiel de se estudar o corpo humano
- Mas você não fica... mal com isso?   
- Superamos isso, temos de superar – respondi.
- Hum...
Ele parou e pensou um pouco. E nesse instante lhe perguntei:
- E o senhor o que faz?
- Eu trabalho para um frigorífico. Eu trabalho na área do abate – respondeu-me de pronto.
- Pois é, e o senhor não se sente mal com isso, matando os bichinhos todos os dias?
- Superamos isso – respondeu, sorrindo e orgulhoso, usando a minha expressão.
E perguntou, pedindo aprovação:
– Nos acostumamos, não é?

Sorri, apenas.