AS INFORMAÇÕES DE QUE O MÉDICO PRECISA
As informações prestadas ao médico devem ser fidedignas, claras,
precisas.
Não se deve aumentar ou diminuir a intensidade dos sintomas, nem
mascará-los com outros que não existem.
Não é necessário dar ao médico um diagnóstico, mas sim a história
detalhada da doença com seus sinais e sintomas.
Muitos colegas passaram por omissos, imprecisos, por atitudes de
pacientes e seus familiares que omitiram, eles sim, informações essenciais,
gerando risco de o paciente perder a vida.
O paciente é objeto de estudo por parte do médico, mas também o seu
principal informante. Não cabe ao médico fazer um ajuizamento moral, ético ou o
que quer que seja, senão tratar, corrigir ou limitar o mal.
Não se justifica a atitude de abster o médico de informação. Seria de
se esperar, também, que o paciente compreendesse a indicação do médico quanto à
elaboração de exames e procedimentos que lhe trarão mais informações sobre sua
doença. O médico não é adivinho e depende de informações para poder ser
assertivo.
Sejamos comedidos nos nosso atos com relação à medicina e sua
aplicação, e busquemos um médico para que diagnostique e nos oriente para nos
tratar de um mal. Não procuremos inventar sintomas para conseguir um exame por
capricho de consumo.
Vamos atuar juntos, cada um na sua competência. Entendemos como é
difícil para a pessoa que está no papel do paciente, ou no papel do parente
próximo, enfrentar o período da doença. Mas o seu papel como informante no
processo de estudo do caso é fundamental.
Não Precisava Ser Assim
É comum haver um desvio dos fatos por vários motivos, o que é
lamentável e pode até ser fatal.
Um exemplo: veio a meu consultório uma mulher que uma vez por ano
aparecia para consulta. Queixava-se de sangramento menstrual irregular e
volumoso. Como parte da conduta, pedi que fosse ao ginecologista para uma
avaliação, e ela afirmou já ter ido há menos de seis meses. Reafirmei a
necessidade de voltar lá.
A paciente foi embora e voltou quase um ano depois. Chegou com queixas
compatíveis com uma tromboflebite, e tive que tratá-la imediatamente devido à
gravidade do caso. Apresentava-se emagrecida e pálida, e, no exame, verifiquei
uma anemia acentuada. Devido à gravidade da tromboflebite, tratei-a e novamente
questionei a visita ao ginecologista, e ela afirmou ter estado com ela , uma
amiga médica, há menos de 40 dias e que estava tudo normal.
Pedi um hemograma, que quantificou essa anemia como acentuada, e
insisti em que fosse ao hematologista, uma vez que na área ginecológica não
havia nada e o exame realmente, pelo que me dizia, era recente. A paciente era
lúcida e bem diferenciada.
Ficou me ligando por um longo período, quando insisti em que fosse
buscar o hematologista ou um serviço de diagnose com exames, e ela foi se
esquivando. Isso foi até que uns 60 dias depois, uma amiga dela, realmente
médica, me ligou e negou que ela tivesse feito mais que um hemograma,
informando que ela não queria recorrer a um serviço médico.
Essa atitude infeliz, por parte da paciente acabou lhe custando a vida,
por simplesmente ter medo de que “fosse uma doença ruim”.
Foi uma doença ruim, e hoje tem cura!
O Mal Oculto
Outro paciente veio ao consultório porque tinha passado a apresentar
convulsões. Foi encaminhado para exames e nada aparecia de anormal. Pesquisei
todo seu hábito de vida e nada me era informado que pudesse ajudar no
diagnóstico, inclusive uma pesquisa com sua mulher. O paciente foi usuário de
álcool, por muito tempo em sua vida, causando dissabores à sua família. Mas
havia parado de beber não fazia muito tempo.
O paciente não evoluiu ao tratamento. Foi internado e fui chamado para
prestar informações para os colegas no hospital, que também não estavam
entendendo o que acontecia com ele.
Quando eu saía da UTI, sua filha mais velha me chamou de lado e me informou
que o pai estava sendo tratado, às escondidas, para parar de beber, com uma
droga que sua mãe lhe administrava secretamente.
Bem, esta passou perto: foi isolá-lo por uns poucos dias da família, e
o quadro regrediu.
Informação Fidedignas, Clara e Precisa
Há inúmeros outros casos, eu só mostrei os mais chocantes para dividir
com vocês o espanto que tudo isso causa. Não dá para entender o porquê dessas
atitudes, uma vez que procuramos um médico para resolver nossos problemas.
Além de causar um mal a si mesmo, causa um mal-estar no médico e a
indignação da família, que tem dificuldade de aceitar o fato.
As informações prestadas ao médico devem ser fidedignas, claras,
precisas. Repito: não se deve aumentar ou diminuir a intensidade dos sintomas,
nem mascará-los com outros que não existem.
Tenho Um Problema No Fígado
Certa vez entrei num diálogo assim com uma paciente:
- Tenho um problema de fígado que gostaria de resolver, doutor.
- É o que a senhora sente? – perguntei-lhe.
- Mal no fígado, faz anos que sofro do fígado. Quando era nova, fiquei
muito ruim e só sarei depois de tomar umas ervas.
Ela falava e apontava o lado errado como sendo o local do fígado.
- Sei sim, mas o que a senhora sente?
- Fiz vários exames, mas não adiantaram para nada. Continuei a sentir
meu fígado.
E punha a mão no lado oposto da região do fígado. Tento buscar
informações:
- Mas o que acontece quando a senhora fica mal do fígado?
- Fico mal e vou ao hospital, faço exames e depois dizem que não é nada,
me dão uma injeção e me mandam embora.
Não havia meio de conseguir as informações... Continuo:
- A senhora não acha esquisito esse problema?
- Não doutor, é sério, tive até um derramamento de bílis.
- Como assim?
- Vomitei verde, às vezes tenho até dor de cabeça, daí eu paro o chá e
tomo losna pura (vegetal) que é bom para o fígado.
- E daí, como fica o fígado?
Aponto para onde ela diz ter o fígado, onde na verdade está o colon
esquerdo.
- Melhora muito, desincha, o intestino funciona muito e os gases saem e
eu melhoro do fígado.
Entendi o que queria dizer. Ela tinha gases, que ficavam enclausurados
no colon esquerdo, e melhorava provocando evacuações com um diarreico.
E o fígado? Bem deixemos para lá, espero ter mostrando a dificuldade
para termos sintomas claros.