quarta-feira, 8 de junho de 2016


O MÉDICO GENERALISTA 

 

- Mas o senhor é formado em que especialidade? 
- Eu sou um médico generalista, e atuo com Homeopatia para tratar as pessoas das doenças crônicas e agudas sempre que haja indicação terapêutica para isso.  
- Mas o que é um médico generalista? 

Este diálogo se repete muitas e muitas vezes.  

A grande maioria das pessoas não sabe o que é um médico Generalista, o que faz, como foi formado.  

Querem saber se é um Clínico Geral, e se espantam quando digo que o Clínico Geral já é um especialista. 

Um Conceito Já Esquecido. 

  
Quando atuamos nMedicina como médicos, atuamos por Níveis de Atenção à Saúde. 

É como se fosse uma escala onde definimos o que se praticará na medicina, quando, por quem e com qual objetivo. 

O objetivo maior é a Promoção da Saúde e sua Manutenção.  

Entendemos que a maior prevenção contra as doenças do ser humano é a promoção da Saúde. Uma pessoa realmente saudável dificilmente enferma e se o fizer recuperará rápido e completamente e, ainda, dificilmente complicará. 

Mas se adoecer e se mostrar sem tendência a curar, o que temos que fazer é resolver a enfermidade e promover a volta da saúde.  

Quando precisamos monitorar um doente, dar-lhes cuidados especiais, então pensamos em interná-lo em um hospital onde terá o tratamento seguido por um Clínico geral, um Cirurgião geral, um Ginecologista ou Pediatra. 

São médicos que ficam no Hospital onde desenvolvem suas atividades quer seja nas enfermarias como nos ambulatórios.  

Uma vez com alta da enfermaria serão seguidos pelo ambulatório, e deste a alta definitiva quando volta para o Nível de Atenção Primária, para os cuidados do Médico Generalista 

No nível de atenção primária um dico deve acompanhar as pessoas e cuidar para que estes não enfermem. Deve também ser sua preocupação promover a saúde da pessoa tratando-a de seus males, afastar fatores nocivos que potencializem a tendência a enfermar, levantar um mal recorrente na sua área de atuação e, acima de tudo, dirigir Educação em Saúde com a ajuda de sua equipe de auxiliares vários. 

O médico que atua nesse nível de atuação é um Generalista, um médico de formação ampla, de cultura médica extensa, isso para que possa entender o indivíduo no seu espaço de vida, tanto cultural como físico. Ele deve ser apoiado pelo poder público e sua atuação é eminentemente de caráter público e não privado.  

É a forma que os municípios deveriam dar a Medicina à população. 

Neste sistema, o custo e benefício é muito favorável altamente eficaz. 

Para entender a eficiência, na Inglaterra mais que 90% dos problemas de saúde na população são resolvidos neste nível. 

Se o problema exige um aprofundamento do estudo de um órgão ou sistema, ou ainda, se a intervenção exigir o uso de uma técnica específica então entra o último nível onde encontramos os especialistas. 

 Na pirâmide de distribuição de profissionais médicos, a base do triângulo representa o médico especialista que ocupará uns dois terços da pirâmide. Seguindo, vem ocupando mais dois terços do restante da Pirâmide à área de atuação das grandes especialidades com o Clínico Geral, o Pediatra, o Clínico Cirúrgico e o Ginecologista. O restante, uma pequena parte, é ocupada pelos especialistas e superespecialistas. 

No sistema norte Americano de Saúde, que o é o nosso também, a medicina se divide em áreas setorizadas de atuação, cabendo a cada especialista uma parte pequena de atuação para agir e o nível de Atenção Primária à Saúde, se não existente, é desprezível. 

Não é raro se confundir a área do Sanitarista com este nível. 

O Generalista

   
O médico Generalista é um médico que teve uma formação diferente do que temos hoje no Brasil.  Tudo na formação dele conspira para o médico que, com base nos conhecimentos extensos, seja capaz de entender o homem na sua dinâmica vital, seja patológica ou não, seja um adulto ou uma criança, seja homem ou mulher.  

Fazer os diagnósticos, aplicar um tratamento curativo, preventivo, executar os programas de saúde, fazer uma avalição precisa, fornecer dados e suspeitas para verificação epidemiológica, sanitárias etc.  

É aquele que propriamente “arregaça as mangas” para exercer a função promotora e mantedora de saúde, e liderar um grupo de profissionais da área médica que trabalham dentro desse nível do sistema médico.  

Na verdade ele é capacitado a liderar as ações em saúde em um determinado grupo da população que esteja sob sua responsabilidade 

Ele também é conhecido como Médico de Família, embora no Brasil haja um especialista assim promovidocuja formação não é essa que descrevo.  

O Generalista de verdade, um Clínico por excelência tem a função de executar a Medicina para os fins descritos.  

Ele é determinado para trabalhar dentro de um sistema médico definido por níveis de atenção à saúde em uma parcela da comunidade.  

Com esse grupo se responsabilizando para promover, manter saúde ou minimizar o mal, com o auxílio da sua equipe, a que lidera dentro de uma unidade de saúde do município.  

Quando a organização da parcela da população a ser atendida  se faz através de famílias cabe a ele um número de famílias para atuar.  

Essas famílias são limitadas e moram numa área definida. Ele é conhecido então como o Médico de Família.  


Formação do Médico Generalista 


O maior desafio da formação do médico Generalista é a faculdade equipada para formar o médico.  

Partindo de um conceito primário, vai se desenvolvendo o estudo sendo que um conhecimento é englobado por outro ainda maior até a sua formação total, seguindo por base o desenvolvimento de um médico sem a limitação típica de um  médico “ista”. 

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base de seu ofício é o Raciocínio Médico, algo trabalhoso e finalizado, na faculdade,  por volta do quinto para o sexto ano. Nesse momento a cadeira denominada Integração Anatomopatológica sela o Raciocínio Clínico 

Esse profissional usará seu conhecimento para o uso do raciocínio em Medicina que o levará a levantar os diagnósticos médicos, estudar o tratamento, a prevenção, a avaliação do enfermo,  em fim dará ao médico assim formado uma ampla visão capaz de entender o que se tem a ser tratado, como tratar, como limitar o mal, aliviar o sofrimento e como lidar com as limitações. Também o auxiliará muito na tarefa da prevenção manutenção da saúde.   

O problema maior é o custo na formação deste médico que é deveras alto, por ter muitas horas de aprendizado corpo a corpo com seus mestres 

Lembro-me de quantas vezes estávamos a beira do doente, e os professores, geralmente dois, clínicos de alto gabarito, avaliavam o caso clínico conosco, e começavam as perguntas que iam dissecando nossos pensamentos e educando nossos raciocínios. 
Apareciam de repente, entravam em um quarto e nós todos do quarto iriam participar daquela “aula prática” que não era fácil. 

No quinto ano depois de muitas e muitas visitas deles, tínhamos um ano aprendendo com o Mestre a raciocinar 

Já acumulávamos horas como neófitos de clínicos e rendíamos sem o saber no aprendizado difícil e penoso de aprender a pensar como um médico.  

Foi muito duro, exigiu muito de nós, mas tenho muitíssimas saudades. Queria voltar só um pouquinho para aproveitar mais.  

As atividades nessa altura eram intensasEsquecíamos de casa tamanha atividade.  

Víamos nossos companheiros, nosso colegas ao acaso e muito raramente. 

Os mais próximos são os que atuavam na mesma área que nós, ou no mesmquarto em uma enfermaria.  

Antes de entrarmos no hospital, na passagem nos postos de Saúde da Faculdade, ainda nos víamos, mas não mais a turma toda.   

No encontro de casos clínicos raros e difíceis, nareuniões de necropsia e biópsia, nos encontrávamos quase todos, o que era muito prazeroso. Tínhamos muito para contar uns para outros, o que vivenciávamos e aprendíamos. 

Treinávamos o despedir também porque o curso chegava ao fim.  

Aprendi que quando não sabemos o suficiente achamos que somos sábios, bons no que fazemos, mas quando realmente começamos a saber achamos que não temos o suficiente.   

Reconhecemos a humildade naqueles que nos ensinavam porque eram muito bons. 

O que nos falta 

O Brasil é um país onde se encontra bons especialistas e hospitais bem equipados para o trabalho dos especialistas 

Não há nada de errado neste nível de atenção terciária à saúde, as especialidades e seus especialistas. O nível desses profissionais é muito bom, e nos grandes centros chega a excelência as ações médicas especializadas. 


Estudos e pesquisas não nos deixam em nada a dever aos grandes centros internacionais.  

O Nível de Atenção Secundária a Saúde, os hospitais gerais e seus grandes especialistas estão sumindo quase que totalmente, principalmente nos grandes centros. 

Há uma diminuição acentuada dos Pediatras e Ginecologistas. Os clínicos são muito poucos e o Cirurgião geral acredito que desapareceu.  

São quase todos especialistas.  

No nível da Atenção Primária à Saúde o médico Generalista não existe mais, e nem mesmo se conhece como atuam .  

Neste nível de atenção à saúde e no nível de Atenção Secundária à Saúde é onde está radicado o problema no sistema médico nacional. 

O médico generalista com sua formação ampla e francamente clínica não encontra mais espaço na memória dos cidadãos. Há um tempo atrás era comum se falar do doutor fulano que acompanhou a família tal ou que foi tratar alguém em casa. 

Mesmo o Clínico Geral, muitas vezes está preso aos serviços de outras especialidades e não tem mais espaço para suas atuações integradoras dentro de um serviço médico, o que evitava muitos problemas e complicações na atuação de tantos especialistas. 

Uma certa vez, tive que medicar um paciente numa emergência psiquiátrica, e um determinado colega, enciumado, me disse que não poderia agir na psiquiatria porque eu não era psiquiatra. emergência não se levava em conta. 

Na Homeopatia, a clínica é elevada a um exponencial muito grande, o que torna o trabalho ainda maior para aqueles cuja formação não é eminentemente clínico e sua cultura médica seja limitada.  

Tudo porque o trabalho médico é aplicado a uma clínica mais ampla que a usual.  

 Qualquer Homeopata pode atestar isso sem dificuldade.