UM EXEMPLO DA HOMEOPATIA EM UM CASO CRÔNICO GRAVE
Endereçaram-me algumas
perguntas relativa ao assunto da matéria anterior.
Perguntavam-me se a atuação
na Homeopatia era realmente suficiente nos quadros graves, e se eu poderia dar
algum exemplo real.
O que é realmente suficiente
num caso grave?
Todo ato médico que o
paciente precisa para se manter vivo e se curar é o suficiente.
Nesses casos, a atuação do
médico deve ser precisa e a avaliação do paciente deve ser a mais rigorosa
possível.
Vou contar um caso, didático
a meu ver, que mostra a atuação da Homeopatia por um ângulo não muito visto
hoje em dia.
A SENHORA X
Senhora X era uma senhora
muito alegre, tinha 68 anos de vida, e mostrava muito mais devido a uma vida
difícil que tivera.
Era mãe de sete filhos, e
era muito querida por seus parentes, principalmente por um neto que lhe dava
toda a atenção possível.
Era portadora de
Cardiomegalia, coração grande, e Insuficiente, coração fraco. Vinha se tratando
há anos, e a doença evoluía lentamente. Apresentava veias varicosas numerosas nas
pernas.
Repirava mal e se cansava
facilmente devido a Insuficiência cárdica.
Tinha em seu histórico
várias internações pela cardiopatia, e já estivera na UTI na última vez e
tivera alta hospitalar porque, no caso dela, os médicos diziam que não tinha
mais o que fazer.
Ficava em casa sob os
cuidados de seus familiares.
O CHAMADO
Numa tardinha, recebi um
pedido de consulta domiciliar com urgência.
Fui para lá, e encontro a
senhora X deitada, com cabeça alta em uns 45° ou mais, num quarto meio escuro e
com algumas pessoas no quarto pequeno, o
que dava um aspecto ruim e pesado.
Ela respirava mal, tinha um
tom cinza arroxeado, e olhava denotando muita ansiedade.
Apresento-me e sento em uma
cadeira do lado do seu leito e tomo-lhe o pulso.
“Era o samba do criolo
doido”. Era irregular, lento, fraco e pouco amplo. Falhava a cada três ou 5
batidas do coração.
De repente, ficava cheio e
mais duro, e logo depois voltava ao rítimo inicial. Qualquer movimento o pulso
disparava e a senhora X dizia que tinha a impressão de que o coração fosse
parar.
A ausculta mostrava extrassístoles
e uma plêiade de sinais da Insuficiência Cardíaca congestiva; apresentava muito
edema de membros inferiores, região sacra, e mostrava a jugular cheia.
Os esforços eram quase impossíveis,
mesmo andar, quando vinha uma canseira intensa e sentia-se muito fraca,
principalmente de manhã.
Outro sintoma era os dedos
adormecidos da mão, e o acordar subitamente a noite sentindo-se sufocada.
Logicamente os sintomas do
mal, percebidos ao exame físico, que estavam presentes eram muito “floridos”,
no tórax, abdomem, membros, pescoço, etc.
Fiquei a observa-la para ver
além dos sintomas físicos o que poderia notar.
Vi um copo com algo
esverdeado e pergunto o que era.
Informaram-me que ela pedia
chás amargos que lhe davam prazer e lhe aliviavam.
Conversando com ela pude notar
uma ansiedade pelo que viria a acontecer, achava que teria que se dar mais ao
neto e a uma filha. Questionava-se o que aconteceria com eles se morresse. A
ideia da morte lhe incomodava.
Conta-me também ter uma
angustia a noitinha quando pensava com remorso em algumas coisas que tinha
feito na vida.
Para fazer o exame físico,
no sentar-se, mover-se noto grande pesadez.
O MEDICAMENTO
Então entre todos os
sintomas esperados do quadro físico, me pergunto qual me mostraria mais que a
enfermidade física, por assim dizer, e
mais um pouco do doente para poder dar um “Simillimum”, o mais exato a doença
dela.
Chego sem dúvida ao DESEJO
POR AMARGOS, que no caso era um Key Note, a chave para entender o processo
dinâmico doente.
Foi sem dúvida o meu sintoma
diretor, outro sintoma que ajudou foi a sensação
do coração parar, mais a situação ansiosa-angustiosa.
O que, juntos, para mim tinha fechado o quadro facilmente.
Dei-lhe uma dose única de
Digitalis purpurea 30CH, uma dose única longe de refeição, e pedi uns dez dia
para nova consulta.
A NOVA CONSULTA
Em nove dias me ligam porque
ela estava mal.
Vou, novamente a tardinha por coincidência.
Chegando lá tinha muitas
pessoas na frente da casa, parecia festa, e assim que chego não tiram os olhos
de mim.
Fiquei muito constrangido de
ver aquelas pessoas ali me olhando, e ao passar abriam espaço.
Ouço alguns comentários:
como é novo!, é ele?, achei que fosse careca... etc.
Entro e lá dentro não tinha
muita gente, que alívio.
Logo me levam a um outro
quarto.
Ela estava deitada e sorriu
ao me ver, e disse um lindo:
- Oi doutor.
- Oi senhora X
E me contaram que ela estava
com diarreia intensa há um dia e começou a ficar fraca e com câimbras. Tudo que
punha na boca vomitava e hoje estava fraca.
Achei graça, porque pensei
encontra-la morrendo da insuficiência cardíaca e ela estava com um quadro de
vômito com diarreia aguda.
Pude notar estar ela desidratada,
e vi que era a vez de usar a Isopatia, e prescrevi um soro por via oral, uma
dieta adequada, e um medicamento homeopático para o quadro agudo.
Pergunto como ela estava e
prontamente me respondem que vinha muito bem, que estava andando, comendo bem,
conversava sem cansar e que até a cor tinha mudado.
Não vi isso naquele quadro
com pouca luz, mas ela estava desidratada.
Saio e peço notícias se não
evoluir como prognosticado por mim, e que a veria em 30 dias.
O RETORNO
Dentro desse mês eu tive que
mudar de consultório, e pedi que avisassem a todos o clientes.
Como o pessoal da senhora X
estava muito quieto pedi par que não ligassem porque achei que talvez eles
estivessem sofrendo pelo luto.
Eu não a tinha visto melhor,
e minha impressão era o da primeira consulta.
Passaram-se vinte dias de
consultório novo quando me aparece para consulta a senhora X e sua filha,
bravas por eu não ter avisado da mudança do consultório.
Ela tinha vindo andando, e
estava já em atividades sem canseira, sem a cor horrível cianótica que tinha.
Avaliei-lhe, examinei e
fiquei pasmo ao vê-la tão bem.
Lógico que o coração
continuava grande e com extrassístoles, mas a função cardíaca tinha melhorado
muito.
Evolui por mais duas vezes e
ela ficou completamente bem e estável, voltando inclusive a sair para fazer
compras, e acompanhar o neto em alguns passeios.
Não a vi mais por uns cinco
anos.
A VOLTA
Novamente pedem-me uma
consulta domiciliar para ela depois desse tempo todo.
Vou novamente, e chegando lá
a encontro deitada, um pouco cianótica, com queixa de palpitações violentas com
constrição no peito e muita falta de ar, acompanhada de falta de ar mesmo em
repouso. Novamente esta de cabeceira alta.
Parecia o primeiro quadro.
O neto, ansioso, me pergunta
o porquê sua avó faz barulho ao engolir, e pergunto como assim.
Ele vai a cabeceira, pega um
pouco de água no copo e da para a avó tomar.
- TRUUK, TRUUK – pode se
ouvir claramente.
- Esse barulho. Desde que
ficou mal faz esse barulho para engolir líquidos ou sólidos.
Pronto é um dos sintomas que
eu queria.
Repertorizo e dou-lhe uma
dose de Hydrocyanicum acidum 30CH uma só dose.
Em dez dias me dizem que ela
tinha voltado a ficar boa e peço que a levem no consultório então depois de
vinte dias.
Depois disso não soube mais
dela.
Três anos após, soube que
ela tinha sido internada na UTI muito mal e morreu.
FIM
Como ela tinha voltado a
ficar boa não voltaram mais. É muito comum isso.
Esse quadro eu acho muito
didático que nos mostrar como atua a Homeopatia em casos em que o tempo é muito
importante devido a gravidade do caso.
Um dia, por acaso, encontrei
o cardiologista que a havia acompanhado antes de mim.
Trocamos informações e ele
ficou muito espantado com o que disse sobre ela e quis saber mais sobre a Homeopatia
porque, como ele dizia, “parecia milagre”.
Extremamente didático ! Se tivesse se tratado apenas com a alopatia provavelmente não teria meses de vida . Mesmo com um quadro extremamente complexo e com péssimo prognóstico teve ainda pelo menos cinco anos de vida com qualidade .
ResponderExcluir