terça-feira, 3 de novembro de 2015

UM EXEMPLO DA HOMEOPATIA EM UM CASO CRÔNICO GRAVE


Endereçaram-me algumas perguntas relativa ao assunto da matéria anterior.
Perguntavam-me se a atuação na Homeopatia era realmente suficiente nos quadros graves, e se eu poderia dar algum exemplo real.
O que é realmente suficiente num caso grave?
Todo ato médico que o paciente precisa para se manter vivo e se curar é o suficiente.
Nesses casos, a atuação do médico deve ser precisa e a avaliação do paciente deve ser a mais rigorosa possível.
Vou contar um caso, didático a meu ver, que mostra a atuação da Homeopatia por um ângulo não muito visto hoje em dia.

A SENHORA X 

Senhora X era uma senhora muito alegre, tinha 68 anos de vida, e mostrava muito mais devido a uma vida difícil que tivera.
Era mãe de sete filhos, e era muito querida por seus parentes, principalmente por um neto que lhe dava toda a atenção possível.
Era portadora de Cardiomegalia, coração grande, e Insuficiente, coração fraco. Vinha se tratando há anos, e a doença evoluía lentamente. Apresentava veias varicosas numerosas nas pernas.
Repirava mal e se cansava facilmente devido a Insuficiência cárdica.
Tinha em seu histórico várias internações pela cardiopatia, e já estivera na UTI na última vez e tivera alta hospitalar porque, no caso dela, os médicos diziam que não tinha mais o que fazer.
Ficava em casa sob os cuidados de seus familiares.

O CHAMADO

Numa tardinha, recebi um pedido de consulta domiciliar com urgência.
Fui para lá, e encontro a senhora X deitada, com cabeça alta em uns 45° ou mais, num quarto meio escuro e com algumas pessoas no quarto pequeno,  o que dava um aspecto ruim e pesado.
Ela respirava mal, tinha um tom cinza arroxeado, e olhava denotando muita ansiedade.
Apresento-me e sento em uma cadeira do lado do seu leito e tomo-lhe o pulso.
“Era o samba do criolo doido”. Era irregular, lento, fraco e pouco amplo. Falhava a cada três ou 5 batidas do coração.
De repente, ficava cheio e mais duro, e logo depois voltava ao rítimo inicial. Qualquer movimento o pulso disparava e a senhora X dizia que tinha a impressão de que o coração fosse parar.
A ausculta mostrava extrassístoles e uma plêiade de sinais da Insuficiência Cardíaca congestiva; apresentava muito edema de membros inferiores, região sacra, e mostrava a jugular cheia.
Os esforços eram quase impossíveis, mesmo andar, quando vinha uma canseira intensa e sentia-se muito fraca, principalmente de manhã.
Outro sintoma era os dedos adormecidos da mão, e o acordar subitamente a noite sentindo-se sufocada.
Logicamente os sintomas do mal, percebidos ao exame físico, que estavam presentes eram muito “floridos”, no tórax, abdomem, membros, pescoço, etc.
Fiquei a observa-la para ver além dos sintomas físicos o que poderia notar.
Vi um copo com algo esverdeado e pergunto o que era.
Informaram-me que ela pedia chás amargos que lhe davam prazer e lhe aliviavam.
Conversando com ela pude notar uma ansiedade pelo que viria a acontecer, achava que teria que se dar mais ao neto e a uma filha. Questionava-se o que aconteceria com eles se morresse. A ideia da morte lhe incomodava.
Conta-me também ter uma angustia a noitinha quando pensava com remorso em algumas coisas que tinha feito na vida.  
Para fazer o exame físico, no sentar-se, mover-se noto grande pesadez.

O MEDICAMENTO

Então entre todos os sintomas esperados do quadro físico, me pergunto qual me mostraria mais que a enfermidade física, por assim dizer,  e mais um pouco do doente para poder dar um “Simillimum”, o mais exato a doença dela.
Chego sem dúvida ao DESEJO POR AMARGOS, que no caso era um Key Note, a chave para entender o processo dinâmico doente.
Foi sem dúvida o meu sintoma diretor, outro sintoma que ajudou foi a sensação do coração parar, mais a situação ansiosa-angustiosa. O que, juntos, para mim tinha fechado o quadro facilmente.
Dei-lhe uma dose única de Digitalis purpurea 30CH, uma dose única longe de refeição, e pedi uns dez dia para nova consulta.

A NOVA CONSULTA

Em nove dias me ligam porque ela estava mal.

Vou, novamente a tardinha por coincidência.
Chegando lá tinha muitas pessoas na frente da casa, parecia festa, e assim que chego não tiram os olhos de mim.
Fiquei muito constrangido de ver aquelas pessoas ali me olhando, e ao passar abriam espaço.
Ouço alguns comentários: como é novo!, é ele?, achei que fosse careca... etc.
Entro e lá dentro não tinha muita gente, que alívio.
Logo me levam a um outro quarto.
Ela estava deitada e sorriu ao me ver, e disse um lindo:
- Oi doutor.
- Oi senhora X
E me contaram que ela estava com diarreia intensa há um dia e começou a ficar fraca e com câimbras. Tudo que punha na boca vomitava e hoje estava fraca.
Achei graça, porque pensei encontra-la morrendo da insuficiência cardíaca e ela estava com um quadro de vômito com diarreia aguda.
Pude notar estar ela desidratada, e vi que era a vez de usar a Isopatia, e prescrevi um soro por via oral, uma dieta adequada, e um medicamento homeopático para o quadro agudo.
Pergunto como ela estava e prontamente me respondem que vinha muito bem, que estava andando, comendo bem, conversava sem cansar e que até a cor tinha mudado.
Não vi isso naquele quadro com pouca luz, mas ela estava desidratada.
Saio e peço notícias se não evoluir como prognosticado por mim, e que a veria em 30 dias.

O RETORNO

Dentro desse mês eu tive que mudar de consultório, e pedi que avisassem a todos o clientes.
Como o pessoal da senhora X estava muito quieto pedi par que não ligassem porque achei que talvez eles estivessem sofrendo pelo luto.
Eu não a tinha visto melhor, e minha impressão era o da primeira consulta.
Passaram-se vinte dias de consultório novo quando me aparece para consulta a senhora X e sua filha, bravas por eu não ter avisado da mudança do consultório.
Ela tinha vindo andando, e estava já em atividades sem canseira, sem a cor horrível cianótica que tinha.
Avaliei-lhe, examinei e fiquei pasmo ao vê-la tão bem.
Lógico que o coração continuava grande e com extrassístoles, mas a função cardíaca tinha melhorado muito.
Evolui por mais duas vezes e ela ficou completamente bem e estável, voltando inclusive a sair para fazer compras, e acompanhar o neto em alguns passeios.
Não a vi mais por uns cinco anos.

A VOLTA

Novamente pedem-me uma consulta domiciliar para ela depois desse tempo todo.
Vou novamente, e chegando lá a encontro deitada, um pouco cianótica, com queixa de palpitações violentas com constrição no peito e muita falta de ar, acompanhada de falta de ar mesmo em repouso. Novamente esta de cabeceira alta.
Parecia o primeiro quadro.
O neto, ansioso, me pergunta o porquê sua avó faz barulho ao engolir, e pergunto como assim.
Ele vai a cabeceira, pega um pouco de água no copo e da para a avó tomar.
- TRUUK, TRUUK – pode se ouvir claramente.
- Esse barulho. Desde que ficou mal faz esse barulho para engolir líquidos ou sólidos.
Pronto é um dos sintomas que eu queria.
Repertorizo e dou-lhe uma dose de Hydrocyanicum acidum 30CH uma só dose.
Em dez dias me dizem que ela tinha voltado a ficar boa e peço que a levem no consultório então depois de vinte dias.
Depois disso não soube mais dela.
Três anos após, soube que ela tinha sido internada na UTI muito mal e morreu.

FIM 

Como ela tinha voltado a ficar boa não voltaram mais. É muito comum isso.
Esse quadro eu acho muito didático que nos mostrar como atua a Homeopatia em casos em que o tempo é muito importante devido a gravidade do caso.
Um dia, por acaso, encontrei o cardiologista que a havia acompanhado antes de mim.
Trocamos informações e ele ficou muito espantado com o que disse sobre ela e quis saber mais sobre a Homeopatia porque, como ele dizia, “parecia milagre”.

  

Um comentário:

  1. Extremamente didático ! Se tivesse se tratado apenas com a alopatia provavelmente não teria meses de vida . Mesmo com um quadro extremamente complexo e com péssimo prognóstico teve ainda pelo menos cinco anos de vida com qualidade .

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